Discurso de Faustino Pinto, coordenador nacional do Morhan no lançamento do CIEDS – Comitê Interministerial da Tuberculose e Doença Determinadas Socialmente

Discurso de Faustino Pinto, coordenador nacional do Morhan no lançamento do CIEDS – Comitê Interministerial da Tuberculose e Doença Determinadas Socialmente

CIEDS – Comite Interministerial da Tuberculose  e Doença Determinadas Socialmente 

n

Bom dia a todos, estimados membros do CIEDS e prezados  companheiros e companheiras de luta,  

n

É com imenso prazer e um alívio enorme no peito que estou  aqui neste momento, porque tenho a certeza que vou falar  sem ser interrompido, nem ter minha fala cerceada pela  ignorância e a estupidez de quem outrora governava esse  país junto com seus comandados, algumas vezes tentaram  me silenciar, mas a força que tenho em mim e os desejos de  mudanças na vida das pessoas afetadas pela Hanseníase  não me deixaram calar, 

n

Meu nome é Francisco Faustino Pinto, coordenador nacional  do MORHAN – Movimento de Reintegração das pessoas  afetadas pela Hanseníase. e com muito orgulho, pessoa  afetada pela Hanseníase, patologia essa de pessoas  negligenciadas, doença que mudou a minha vida e a forma  de enxergar o mundo, todo o sofrimento, preconceito,  discriminação, estigma institucional, negligencia e descaso  me fizeram mais forte, incansável e neste momento mais do  que nunca revigorado. 

n

Ter a Hanseníase no Comitê Interministerial da Tuberculose  e Doenças Determinadas Socialmente é algo muito  importante para a nossa causa, podermos levar esse debate  a níveis antes sonhado e agora realizado, levar  principalmente as reais demandas das pessoas afetadas  para um espaço de discussão que visa buscar soluções para  esse problema de saúde pública.  

n

Desde o início deste governo que nos enchemos de  esperança, a cada encontro e reencontro, reuniões, troca de  e-mails e ofícios, respostas rápidas e com muito 

n

compromisso e seriedade com a temática que represento,  sei que muitos desafios estão postos, há muito o que fazer,  resgatar, reconstruir, tenho a certeza que amanhã será outro  dia, como hoje está sendo. 

n

Mas mesmo felizes não podemos esquecer que o Brasil tem  um dívida imensa e centenária com as pessoas afetadas  pela hanseníase, tudo que foi feito ou ainda está por fazer, será pequeno diante da negligência e abandono a qual ainda  são submetidas as pessoas afetadas pela doença neste  país, o Presidente lula em seu segundo mandato deu um  passo importante no reconhecimento a violação de direitos  humanos, daqueles que foram segregados nas antigas  colônias de doentes de Hansen, em um ato emblemático  para nossa causa o presidente Lula recebeu em um evento  em Brasília moradores dos antigos leprosários, e em uma  digna e respeitosa cerimônia assinou a lei 11.520 que  reconhece essa violação e concede pensão indenizatória e  vitalícia as pessoas que foram jogadas nas antigas colônias a própria sorte. 

n

Temos outra luta em andamento, a luta dos filhos separados  pela hanseníase, dos filhos e filhas que foram separados dos  seus país ao nascerem, colocados em preventórios,  educandários, vítimas de todos os abusos imagináveis e  violação de direitos, podemos dizer que tivemos holocausto  no brasil? Sim podemos, muitos desses filhos e filhas ainda  choram ao relembrar os horrores aos quais foram  submetidos e é preciso que o governo brasileiro reconheça  esse crime e procure formas de repará-lo. 

n

É inadmissível que nos dias atuais continuemos recebendo  pessoas nos centros de saúde com diagnóstico avançado da  doença, pessoas chegando já com sequelas, pessoas sendo  invisibilizadas em suas comunidades, e chega a ser  criminoso termos no sistema crianças doentes de  hanseníase e com sequelas, condicionando a sua jovem 

n

vida a uma rotina de preconceito, discriminação e estigma,  não podemos mais tolerar isso, é inaceitável. 

n

As pessoas precisam de diagnóstico precoce, temos que  prevenir as incapacidades físicas, e prover reabilitação física  e social para aqueles que já estão sequelados, nós pessoas  afetadas pela hanseníase temos todo o direito à qualidade  de vida e assistência à saúde, não podemos mais aceitar as  migalhas que sobram do SUS, o sistema único de saúde é o  melhor do mundo, sabemos disso, mas o que nos toca desse  sistema é muito pouco, queremos saúde integral.  

n

Precisamos de novas tecnologias, novas medicações, exames, cirurgias plásticas, sim, queremos cirurgias  plásticas, queremos desfrutar da beleza que nos foi roubada  por esse bichinho chamado bacilo de Hansen, chega de  mãos e pés tortos, nariz deformados, pálpebras caídas,  dentes faltando ou estragados pelo excesso de  medicamentos, chega de próteses de baixa qualidade para  aqueles que precisam, queremos e temos direito as coisas  boas da vida, não temos culpa nem nunca teremos por ter  sido afetados por essa doença. 

n

E chega também de batermos a cara na porta do INSS por  não termos peritos treinados e sensíveis a doença de  Hansen, dizer simplesmente que as pessoas afetadas pela  hanseníase com sequelas podem trabalhar, é fácil e até é o  desejo de muitos e muitas, mas muitas vezes o mercado de  trabalho as rejeitam, devido as pessoas não conseguirem mais exercerem suas antigas atividades laborais, não  conseguirem se adaptar a uma nova atividade ou por puro  preconceito, discriminação e estigma, por isso volto a falar,  é importante diagnóstico precoce para que as pessoas  afetadas não tenham que mendigar.  

n

Queremos também a valorização e preservação da nossa  história, história essa que se funde com a deste país, feita 

n

das dores e sofrimentos daqueles que foram muitas vezes  esquecidos pelo sistema, temos exemplos lindos de luta e  superação, o nosso patrimônio material e imaterial é  riquíssimo, e podem contribuir com as gerações futuras e no  trato com os direitos humanos neste país. 

n

Muitíssimo Obrigado  

n