Fórum discute a incidência da hanseníase no município de Sobral, Ceará

Para diagnosticar o que está acontecendo foi realizado na última quarta-feira, 19, no Centro de Convenções de Sobral, o I Fórum de Humanização da Atenção à Saúde das Pessoas Atingidas pela Hanseníase.Estiveram presentes o secretário de Saúde do município, Arnaldo Costa; a coordenadora do Serviço de Epidemiologia de Sobral, Socorro Carneiro; a coordenadora geral do Movimento de Reabilitação de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Célia Rolim; a doutora Lígia Ker, professora da Universidade Federal do Ceará e coordenadora de uma pesquisa sobre a doença no município, além de profissionais da área de saúde. Em sua palestra de abertura, Arnaldo Costa enfatizou a importância do incentivo às ações primárias no combate e erradicação da doença. “Não podemos apenas diagnosticar a doença e tratar o doente. Temos de ir atrás também dos fatores que desencadeiam a doença”, disse o secretário, fazendo previsões otimistas. Mas, os dados da doença em Sobral são preocupantes.Levantamento da própria Secretaria da Saúde mostra que o município tem registrado hoje 102 casos, o que corresponde a uma taxa de 5,9 casos para cada 10 mil habitantes. Isso, segundo o Ministério da Saúde, coloca o município na faixa considerada de alta endemia. Para tentar diagnosticar as causas da incidência de hanseníase no Ceará, a Universidade Federal do Ceará está realizando uma ampla pesquisa em todo Estado. A pesquisadora Ligia Kerr destacou que a hanseníase ainda é uma doença pouco conhecida dos profissionais da área de saúde. “Muitos países não têm conseguido derrubar essa doença e o Brasil é um deles”, avaliou, acrescentando que um dos objetivos do trabalho é estudar a interligação entre como a transmissão da doença se dá entre o meio familiar e o meio externo. “Estamos analisando fatores genéticos dos pacientes e realizando um dado comparativo da doença entre pessoas de uma mesma família e as de fora dela que também são portadoras”. A hanseníase, segundo os especialistas, tem imbricações diretas com a pobreza, a fome, falta de higiene e outras mazelas agravadas pelas desigualdades. “Em países onde esses fatores foram erradicados a incidência da doença praticamente é nula”, afirmou Lígia Kerr, enfatizando que, além dos fatores socioeconômicos, o contato com fontes de água poluída que trazem a bactéria Mycobacterium leprae, responsável pela doença, também estão sendo levados em conta na pesquisa. Outro fator que, segundo Lígia Kerr, tem mantido os índices de infestação em alta são os poucos exames realizados nos pacientes suspeitos de terem a doença. “Praticamente só se realizam exames de rotina nesses pacientes. Pelo menos cinco exames importantes são deixados de ser feitos nessas pessoas. Com isso, a proliferação da doença tem sido alta”, comentou, informando que com a pesquisa foram introduzidos novos exames para um diagnóstico mais preciso. Para a pesquisadora o problema todo não está na omissão dos profissionais da saúde para com a doença, mas sim por uma determinação do próprio Ministério da Saúde. Para a coordenadora do estadual do Morhan, doutora Célia Rolim, o que falta mesmo é vontade política para resolver a problemática da hanseníase no Brasil. “O Brasil é um dos cinco países no mundo que ainda não conseguiu eliminar a doença”, afirmou. Segundo Célia Rolim, uma delegação do Morhan esteve em Brasília conversando com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que prometeu ações mais efetivas para a erradicação da moléstia em território nacional.”Estamos sempre em alerta e esperamos que alguma coisa realmente seja feita”, concluiu.

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