Voluntária do MORHAN, Maria Teresa da Silva Santos Oliveira soube, em 2002, que havia nascido na Colônia Santo Ângelo. Em carta aberta, a Assistente social e Pedagoga relata a sua luta pelo Movimento. Companheiros:Ir ao Rio de Janeiro e participar, nestes últimos dois dias, 13 e 14/01/10, das reuniões que pautaram temas tão sérios e ao mesmo tempo delicados, modificaram completamente o curso da minha vida. Ao voltar para São Paulo, percebi que não sou a mesma pessoa que foi para o Rio de Janeiro. Voltei, antes de qualquer outra coisa, fortalecida! Certamente foi um choque muito grande quando soube em 2002, que havia nascido na Colônia Santo Ângelo e que portanto fazia parte, querendo ou não, da comunidade de hansenianos. Nunca aceitei esta condição e fugi o quanto pude da realidade. Guardei, ou melhor, “escondi” no armário, os documentos que certificavam esta origem e tentei seguir meu caminho. Mas… Que caminho? Qual seria o caminho possível e certo sem admitir, no fundo do meu coração, que lutava por causas que não eram as minhas? E se gastava, jogava fora, tempo e emoção que não me pertenciam, que resultados poderia obter? Tudo deu sempre muito errado. Agora, tenho consciência disso e sei qual foi a principal razão: a minha bandeira era a do MORHAN.A minha luta, era ao lado daqueles que, assim como meus pais e irmãos biológicos, enfrentaram e enfrentam a triste certeza de serem diferentes, mas com a grata bondade de merecer e de “ser” melhor. Não posso mensurar as dores físicas, morais e sociais destes companheiros, porque Deus me poupou da doença em si.Porém, hoje consigo medir a força física, moral e social de todos vocês quando, de cara limpa, se colocam na linha de tiro diante de uma sociedade que insiste ser cega e ignorante, frente às injustiças que foram e são cometidas com os doentes, os internados, os “separados”, excluídos, machucados e por aí afora como queiram denominar a todos nós, que, antes de tudo, somos seres humanos, iguais nos direitos e deveres diante de qualquer um que se considera “melhor” do que os outros. Portanto, se me foi dada a benção de, pelo menos, não estar doente, de ter sido oportunizada por uma família adotiva em educação, alimentação, saúde e princípios, agora é a minha vez de tomar a posse desta legenda e iniciar meu caminho não como uma simples e descomprometida voluntária, até porque não me considero assim, mas como filha de hansenianos, pronta para a guerra que assumi diante da proposta de indenização pelo Governo Federal, dos filhos dos doentes. Esta carta objetiva duas coisas: a primeira, agradecer a todos os companheiros pela acolhida. Agradecer, inclusive, pelo contato pessoal, de pele, que ajudou a derrubar barreiras. A segunda é comunicar que, a partir de hoje, estou integralmente voltada para este trabalho e isto significa dizer que, sinceramente, não sei como vou, ainda, gerir recursos até para a minha própria sobrevivência, mas na minha fé e é nela que me apoio, encontrarei meios. A minha batalha mal começou. Tenho consciência de todas as dificuldades que me esperam e quero que se apresentem logo, porque estou “no ponto” para exercitar os nossos direitos e brigar por eles. Aos 53 anos, não tenho a juventude a meu favor, mas possuo a clareza da experiência da vida, do mundo, das portas que mantenho abertas para alinhavar politicamente e socialmente nossas causas. Vivo, a partir de hoje, pelo processo de reparação não de danos, mas de “dolo”, porque foram crimes praticados con