29 de abril de 2010

29 de abril de 2010

À procura de justiça

O MORHAN desenvolve uma campanha nacional para encontrar os pais e filhos que foram separados em décadas passadas em função da política de isolamento compulsório da doença no país. A luta vem acontecendo em Todos os Estados brasileiros e tem chamado a atenção da sociedade para uma compreensão justa sobre as perdas irreparáveis dos pais e filhos que foram afastados do convívio familiar durante décadas. No Acre, mais de mil pessoas estão em busca dos parentes desaparecidos no período. A corrente no Estado é fortalecida com a visita do coordenador Nacional do MORHAN, Artur Custódio, que percorre o país em busca da sensibilização e da justiça para as pessoas que foram vítimas da doença e do preconceito.Em reunião realizada na última terça-feira (27),  na sede da coordenação em Rio Branco, ele destacou histórias de pessoas que foram separadas e nunca mais se viram e cobra reparação. “A gente quer que o governo reconheça as falhas da Justiça com relação a essas pessoas que não tiveram como se defender. Na total ausência de leis que as protegessem, elas foram vítimas de normas severas que marcaram para sempre suas vidas”, explica. Ele dá continuidade ao trabalho de defesa de direitos dos hansenianos, que foi feito em anos anteriores por Francisco Bacurau.O coordenador do movimento no Acre, Elson Dias, destaca que as vítimas merecem uma indenização por todo o sofrimento que passaram e que ainda estão enfrentando, tendo em vista que muitas se perderam de forma irremediável dos parentes. No Acre, em meados da década de 20, as pessoas acometidas pela doença eram isoladas na Colônia Souza Araújo, localizada na BR-364 e que anos depois recebeu a categoria de hospital de acolhimento. Nessa época os filhos eram tirados dos pais ao nascer. Enquanto seus genitores eram encaminhados à Colônia, os bebês eram internados no Prevêntório, abrigo hoje conhecido como Educandário Santa Margarida.  A dor da separação Algumas histórias dão conta de que parte das crianças era levada ao abrigo pelos maridos das vítimas e que, devido à distância e ao tempo, nunca mais foram vistas por seus genitores. Várias histórias hoje ilustram essa realidade. A dona de casa Raife Soares da Costa, 40, é um desses casos. Ela foi separada da mãe, Maria Pereira da Costa, na hora que nasceu. “Não tive a oportunidade de viver ao lado dela. Fiquei no Educandário até os doze anos, quando resolvi partir para o mundo e lutar sozinha pela sobrevivência”, queixa-se. Terezinha Prudêncio da Silva, 64, lembra que teve cinco filhos e passou 20 anos internada na Colônia Souza Araújo. Os filhos dela ficaram em casa de parentes durante seu período isolamento, inclusive a filha mais nova de dois anos de idade, da qual ela teve mais dificuldade de se despedir. “Minha filha chorava muito sem entender o que estava acontecendo. Foi arrancada dos meus braços sem que eu ou ela pudéssemos interferir na situação”, enfatiza. Terezinha lembra que os filhos não podiam entrar na colônia durante as visitas. “Eu via meus filhos de longe, pela grade do portão.” Porém, ao receber alta, 20 anos depois, ela procurou juntá-los novamente e refazer os laços que nem o tempo nem distância conseguiram romper. “A separação foi muito dolorosa para todas nós. Sofríamos, e sabíamos no coração, que nossos filhos também estavam tristes”, conclui. Parte das mães nunca mais viu seus filhos e muitos filhos jamais voltaram ao convívio dos pais. Muitos ainda morreram afagando a esperança do reencontro. A

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