Em busca de solução definitiva para a falta de medicamentos para tratamento da hanseníase no Brasil, movimento dos pacientes defende produção nacional
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A falta de medicamentos para hanseníase começou a ser registrada em algumas regiões em abril de 2020 e se agravou, afetando pacientes em todas as regiões do país, entre outubro e janeiro de 2021. Reunião com laboratórios nacionais acontece na próxima semana
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A mãe de uma paciente em tratamento para hanseníase em um município de Mato Grosso conta que a filha vai precisar recomeçar o tratamento do zero. “As dores é ela que sente! Eu como mãe faço o quê? E não podemos fazer nada pois remédio não se encontra mais”, desabafa em relato enviado ao Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, o Morhan, por meio do formulário http://bit.ly/FaltaMedicamentoHanseníase. As denúncias são feitas por pessoas diagnosticadas com a doença, familiares e profissionais de saúde, contam histórias de angústia e demonstram que o problema é generalizado no país: falta PQT, a poliquimioterapia usada no tratamento da doença, em todo o país.
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“Desde a década de 1980, estamos alertando para o perigo à soberania nacional e o risco que os pacientes correm por conta da nossa dependência da produção de um laboratório privado de um medicamento que, inclusive, já não tem mais patente”, afirma o coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio. A falha da produção e da remessa para o Brasil dos medicamentos e todos os problemas que estão acontecendo em relação ao desabastecimento no país comprovam, segundo o dirigente, o que o Morhan vem defendendo há muito tempo. “Precisamos de produção nacional da PQT. Não significa negar a doação, é muito bem-vinda a doação do laboratório Novartis, mas é preciso garantir nossa autonomia no abastecimento, garantir estoques de segurança. Sobretudo porque somos o país com a maior incidência de novos casos da doença no mundo todo”, defende Custódio.
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Com esta pauta, a coordenação nacional do Morhan vai se reunir na próxima quarta-feira (10/2) com representantes do Ministério da Saúde e dos laboratórios públicos brasileiros e dos laboratórios internacionais envolvidos atualmente com a produção da medicação.
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Nova leva não é suficiente
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O Morhan recebeu notícias dos estados de que o Ministério da Saúde recebeu uma leva da doação de PQT para distribuição nos últimos dias. Segundo Artur Custódio, o que se sabe até o momento sobre isso mostra que ainda é preciso construir uma solução definitiva para o problema com foco nas pessoas em situação de maior vulnerabilidade. “Sabemos que está, mas que não chegou ainda em todos os pontos onde houve desabastecimento, e também que o quantitativo cobre um mês de tratamento, ou seja, ainda não é uma solução definitiva”, esclarece. As informações dão conta ainda de que estão sendo priorizados os casos das pessoas já em tratamento que estão em risco de precisar começar o tratamento do zero por conta da interrupção (como no caso do relato que abre essa matéria). “Ou seja, as pessoas diagnosticadas que ainda não começaram o tratamento, permanecem desassistidas. Isso no país que mais diagnostica casos novos da doença em relação a sua população”, alerta o coordenador do Morhan.
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Mobilização e ação no MPF
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Desde o dia 7 de janeiro, o Morhan está recebendo, por meio do formuláriohttp://bit.ly/FaltaMedicamentoHanseníase, relatos sobre os impactos da falta de medicação, enviados por pessoas em tratamento, familiares e profissionais de Saúde. Até o momento, o movimento recebeu 107 relatos de 18 estados de todas as regiões — Sudeste (RJ, SP, MG e ES), Centro-Oeste (MT e GO), Norte (AM, AC, TO e PA), Nordeste (MA, PE, BA, PB, CE, AL) e Sul (RS e SC) — e do Distrito Federal. Os dados foram encaminhados ao Ministério Público Federal, que está com processo em andamento a respeito da falta de medicações no país, a pedido do Morhan e da Sociedade Brasileira de Hansenologia. Também foram encaminhados à Defensoria Pública da União, que mantém o Observatório de Direitos Humanos e Hanseníase.
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Uma petição circula pedindo urgência na solução do problema – pode ser acessada em: bit.ly/PetiçãoMedicamentosURGENTE
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Como forma de sensibilização para o problema, o Morhan também produziu um vídeo em que voluntários e voluntárias interpretam alguns relatos recebidos, ele pode ser visto noYoutube, noFacebook ou noInstagram.
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Confira alguns trechos:
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(profissional de saúde – NORDESTE) – Os pacientes vêm pegar medicação e não tem. Às vezes, são pessoas já no último mês de tratamento. Muitos são casos novos multibacilares. É angustiante para os pacientes e para os profissionais que não tem como ajudar, sentem-se impotentes por isso e por terem ciência do risco para esses pacientes não tratados.
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(familiar de pessoa com hanseníase – SUDESTE) – Três meses de atraso. Preciso da medição pro meu filho!!
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(pessoa que está em tratamento para hanseníase – CENTRO-OESTE) – Já tem 30 dias de atraso. Estou no início do tratamento, seria minha terceira dose. Sinto muitas dores, não consigo ficar em pé por muito tempo pois tenho muitas dores nas pernas e nos pés (…) Não durmo direito (…) Tudo muito triste, fora o preconceito das pessoas…
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(pessoa diagnosticada com hanseníase – NORDESTE) – Tentamos e almejamos muito começar o tratamento, mas não chegou remédio! São QUATRO PESSOAS em nossa casa… Meu pai já está com problemas sérios na sensibilidade, minha mãe tem dedos tortos, minha irmã que é enfermeira não conseguiu iniciar o tratamento, eu estou com dormência corriqueira. Não sabemos o que fazer. Não é possível comprar… estamos preocupados.
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(familiar de pessoa com hanseníase – NORDESTE) – Com o diagnóstico positivo no dia 22 de Dezembro de 2020, sem entender da doença, mas com a consciência que é grave e que já está em um estado avançado (…) Nos deparamos com a falta de medicamentos para iniciar o tratamento. Estamos nos sentido sem chão. Incapacitados. Paralisados. Enfim, estamos impotentes diante dessa situação, estamos desassistidos. ( socooooorro!..)
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Alerta da ONU
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Na declaração oficial da Relatora Especial da ONU para a eliminação da discriminação contra as pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares, Alice Cruz, em relação ao Dia Mundial da Hanseníase, lançado no dia 28 de janeiro, ela destaca a preocupação com a situação do Brasil. “É profundamente preocupante que, desde meados de 2020, as pessoas que foram diagnosticadas com hanseníase não tenham recebido medicamentos essenciais, (ou seja, a multidrogaterapia – MDT ou PQT –, que é distribuída gratuitamente) para tratar a doença, em alguns países, inclusive no Brasil. De acordo com os dados da OMS, o Brasil é o país com as maiores taxas de infecção por 100.000 habitantes (cerca de 28.000 novos casos por ano) e com um número significativo de pessoas sendo diagnosticadas com prejuízos físicos já irreversíveis”, diz trecho do comunicado disponível em inglês no site oficial do mandato: https://ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=26697&LangID=E
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Há uma versão traduzida para o português, aqui: https://bit.ly/DaHanseniaseaCOVID19
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