Podia ter sido com você. Ou com um parente seu…

Podia ter sido com você. Ou com um parente seu…

Imagine as seguintes situações:1 – Você é um homem, com 30 anos mais ou menos. Tem seu emprego, tem um salário razoável, é casado e pai de duas crianças lindas; tem suas limitações, suas frustrações, mas considera-se um homem feliz.2- Você é uma mocinha de 16 anos, mora com seus pais, é cheia de sonhos, está apaixonada por um garoto da escola, tem um grupo de amigos que estão juntos todos os finais de semana e pretende prestar vestibular para medicina, quer seguir a profissão do seu pai;3- Você uma dona de casa humilde, tem quatro filhos com idades entre 18 e 10 anos. Seu marido é porteiro de um edifício residencial e nas horas vagas faz bicos de encanador; apesar da vida sacrificada, é otimista e acha que tudo será bem melhor um dia, não interessa quando será este dia…4- Você é um lindo garotinho, muito inteligente, muito carinhoso, tem apenas cinco aninhos de idade e uma vida inteira pela frente;5- Você é um viúvo, está com mais de 60 anos, os filhos estão todos criados, seus netos estão crescendo e lhe enchendo de orgulho; você vive de forma modesta, mas nunca lhe falta nada e ainda ajuda uma entidade de caridade.Agora imagine todas estas pessoas, vivendo suas vidas sem nenhuma ligação aparente. E, de repente, suas casas são invadidas por pessoas estranhas, amparadas pelo Estado.  Então estes cinco seres humanos são arrancadas dos seus amigos, dos seus filhos, dos seus parentes e depositadas em um lugar de onde jamais sairiam. Eles não teriam mais contato com o mundo exterior. Não havia lei que os amparasse. Não havia recursos financeiros que lhes concedessem habeas corpus. Estavam fadados a esperar para sempre o dia de jamais sairem daquele lugar.Conseguem imaginar o sofrimento deles? Não, não estou falando das vítimas do holocausto. Até poderia, parece a mesma história, se contada assim.Também não estou falando de prisioneiros de guerra de tempos remotos.Isso também não é nenhum roteiro de filme ou livro. Também não é ficção. Esta realidade existiu há até pouco tempo, aqui mesmo, no Brasil.Estou falando de pessoas reais, acometidas por uma doença estigmatizada há séculos: a hanseníase, antigamente tratada apenas pelo nome de “lepra”.  Todo mundo, aposto, já ouviu falar da doença, ela é conhecida como a doença mais antiga do mundo. Mas sei que pouca gente sabe, realmente, a história dessa doença, como se manifesta, suas consequencias, seu tratamento e sua cura. Mais ainda: a maioria das pessoas desconhece o sofrimento silencioso de quem já foi acometido pela hanseníase. Desconhece o triste e vergonhoso histórico do nosso país com relação a estas pessoas.Estou tocando neste assunto porque faço parte de uma organização não-governamental chamada Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase). Acho que já está na hora de começar a falar com vocês sobre este assunto e, a partir de agora, estarei postanto aqui no blog textos sobre a hanseníase. Mas hoje não vou falar mais nada sobre isso. Quero deixar nas memórias de vocês a lembrança de vidas interrompidas e caídas no esquecimento como estas, dos personagens que eu mencionei aqui. Estarei trazendo mais informações sobre o tema com o passar do tempo. Espero que gostem, se envolvam e divulguem… Lílian Rodrigues – Voluntária do Morhan.Visitem o Blog dela neste link: Clique Aqui