A hanseníase não deve ser esquecida em meio à pandemia de COVID-19
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Por Yohei Sasakawa*
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A 74ª Assembleia Mundial de Saúde (AMS) está acontecendo de 24 de maio a 1º de junho e é provável que o encontro deste ano seja dominado pelo tema da COVID-19. Mas aqui eu gostaria de falar sobre uma doença diferente – a hanseníase – e sobre uma resolução que foi adotada na AMS há exatamente 30 anos.
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Essa resolução convocava a eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública em nível global até o ano 2000, sendo a eliminação definida como uma taxa de prevalência de menos de 1 caso por 10.000 habitantes. Foi uma resolução histórica para a época.
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A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Afeta principalmente a pele e os nervos periféricos e é considerada uma das doenças mais antigas da história da humanidade.
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Hoje existe um tratamento eficaz na forma de poliquimioterapia (PQT) e, com detecção e tratamento precoces, a doença é completamente curável. Mas, se o tratamento for adiado, a hanseníase pode causar danos a pele, nervos, rosto, mãos e pés, e levar a incapacidades físicas permanentes. Junto com medos arraigados e percepções errôneas sobre a doença, isso tem submetido as pessoas afetadas pela hanseníase, bem como seus familiares, à severa discriminação, que continua até hoje.
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Infelizmente, em meio à pandemia do novo coronavírus, podemos ver paralelos entre a discriminação e a hostilidade em relação aos pacientes com COVID-19, suas famílias e os profissionais de saúde, que foram relatadas em diferentes partes do mundo, e as atitudes da sociedade em relação à hanseníase.
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Seguindo a resolução da AMS de 1991, a eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública foi alcançada com sucesso em nível global no final do ano 2000. Infelizmente, isso não significa que a hanseníase tenha desaparecido. A cada ano, cerca de 200.000 novos casos de hanseníase são notificados à OMS, com o Brasil respondendo por mais de 27.800 casos em 2019, o segundo maior número de casos no mundo.
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Ainda existem áreas endêmicas e focos dispersos de hanseníase em muitos países, e cerca de 3 a 4 milhões de pessoas vivem com deficiências ou deformidades físicas visíveis devido à doença. Enquanto isso, a persistência do estigma e da discriminação pode impedir as pessoas de procurar tratamento.
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Desde que me tornei Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação da Hanseníase, em 2001, visitei cerca de 120 países, incluindo o Brasil, e observei as situações locais com os meus próprios olhos. Isso me levou a pensar na hanseníase em termos de uma motocicleta: a roda dianteira simboliza a cura da doença e a roda traseira representa a eliminação da discriminação. A menos que as duas rodas girem juntas, não alcançaremos nosso objetivo final de zero hanseníase no mundo.
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No que diz respeito à roda dianteira, a OMS publicou recentemente sua nova Estratégia Global da Hanseníase 2021-2030, que inclui as ambiciosas metas de alcançarmos a marca de zero pacientes com hanseníase em 120 países, além de uma redução de 70{9bfff7e57210f21fddd822478d68ae9e44f809596f0eb206acafbc33aa0f427e} em novos casos detectados globalmente até 2030. Para atingir essas metas, será necessário que haja compromissos e apoio financeiro dos governos; isso não é algo que a OMS possa realizar por conta própria.
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Com relação à roda traseira, tenho trabalhado muito para que a hanseníase seja reconhecida internacionalmente como uma questão de direitos humanos desde o início dos anos 2000, quando entrei pela primeira vez no Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Um dos resultados foi a resolução sobre a eliminação da discriminação contra as pessoas afetadas pela hanseníase e seus familiares, adotada pela Assembleia Geral da ONU em 2010. Mas a medida real do sucesso será quando os princípios e diretrizes que acompanham a resolução forem totalmente implementados.
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Ao longo do último meio século, a dedicação de muitas pessoas nos trouxe um passo mais perto de um mundo sem hanseníase. No Brasil, o governo está trabalhando com afinco para combater a doença e, no setor privado, ONGs como o Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) têm um papel importante a desempenhar. Mas nosso trabalho ainda não terminou e os desafios permanecem.
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Especialmente agora, durante a pandemia de COVID-19, é importante não perdermos a hanseníase de vista e continuarmos a construção sobre o progresso que já fizemos. Lembrando da decisão de 30 anos atrás que uniu os países na luta contra a hanseníase, vamos redobrar nossos esforços para vencer uma doença que tem sido um inimigo comum da humanidade por milênios.
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*Embaixador da Boa Vontade da OMS para a Eliminação da Hanseníase, Embaixador da Boa Vontade do Governo Japonês para os Direitos Humanos das Pessoas Afetadas pela Hanseníase, Presidente da Fundação Nippon