Nos últimos três anos, as reuniões do MORHAN Jabaquara (SP) têm sido palco de diversas discussões a respeito de uma parcela de pessoas que não estiveram institucionalmente internados à época do isolamento compulsório, mas sofreram todo o tipo de preconceito e discriminação (isolamento social, domiciliar e familiar). Alguns foram tratados por médicos particulares, outros viveram em eterna fuga, mudando de residência para não serem descobertos. Hoje idosas e com sequelas (não havia tratamento adequado na época), essas pessoas reivindicam uma atenção maior. Suas rendas, quando existem, são insuficientes para a subsistência. Muitos perderam oportunidades de estudo e de trabalho. Um grupo de pacientes conquistou a formulação do Projeto de lei nº 7256/2010 do deputado federal Arnaldo Faria de Sá, que beneficiaria esta população. O MORHAN Jabaquara, em parceria com o Indhuma (Instituto de inclusão e diversidade humana), dá o primeiro passo no sentido para correção desta injustiça. Um deles, Pedro Rubio, justifica a solicitação do PL 7256/2010 através de sua própria história, relatada a seguir:”Quando vim ao mundo já contava com três irmãs, Consuelo, Josefa e Noeme, 2, 4 e 6 anos respectivamente. Assim que nasci, fui para os braços de minha avó materna, que ajudou minha mãe a cuidar de mim; porém, ninguém sabia que ela era portadora do mal de Hansen. Em 1946,quando eu estava com a idade entre 5 e 6 anos, minha mãe notou em minha pele algumas manchas escuras, levando-me a um farmacêutico diplomado. Ele percebeu do que se tratava e encaminhou meus pais a um posto de saúde D.P.L (Departamento de Profilaxia da Lepra).Ao constatarem que era hanseníase, toda a minha família passou por exames. Foi quando descobriram que minha avó e minha irmã do meio também estavam doentes. Minha avó foi para o sanatório Pirapitingui, e eu e minha irmã, diante da choradeira de meus pais, fomos poupados e levados a uma consulta com um médico particular – o Professor José Maria Gomes – o qual nos deu um tratamento que sumiram todos os sintomas.Tivemos uma infância quase normal, porém o médico afirmava que não estávamos curados, pois o mal de Hansen poderia se manifestar na puberdade, o que realmente aconteceu. Eu, aos 16 para 17 anos, trabalhava como contínuo numa agência bancária quando comecei a perder a sensibilidade nas mãos e nos pés. Como tinha que datilografar, passei a ter dificuldade. Nessa época, apareceu em meu pé esquerdo o primeiro mal-perfurante que dificultava meu andar – e, por isso, o meu trabalho, que incluía entregar correspondência.Diante disso pensei em falar com meu chefe, mas fiquei com medo de que descobrissem a minha doença. Diante de tanto preconceito, seria mandado embora do emprego e poderia ir parar em um sanatório. Não tive alternativa: um dia de 1957 fui surpreendido por meu chefe enquanto trocava o curativo do meu ferimento. Ele ficou horrorizado com o que viu e sem saber do que se tratava – havia dito que não sabia – encaminhou-me para um médico no I.A.P.B. que fez o diagnóstico novamente. Depois de muito examinarem, com muita cautela e medo, acabei por confessar que sabia de minha situação de saúde. Levei uma bronca, pois afirmaram que eu deveria ter contato a verdade. Se eu contasse a verdade não teria o emprego e minha situação ficaria visível. Ao final, diante de um médico que hoje penso ter sido um psicólogo, fui “persuadido” – para meu próprio bem – a pedir demissão, já que dessa forma ninguém ficaria sabendo e “seria melhor para todos”. Foi o que fiz. Depois disso, pensei em suicídio diversas vezes.O tempo, porém, é um bom remédio. Em 1959, por ter perdid