Matéria do Diário de Pernambuco sobre o Sr. Sasakawa.(http://www.pernambuco.com/diario/especiais/hanseniase/direito.shtml)ONU discute a discriminação contra os hansenianos como uma violação de direitos humanos. São vítimas de preconceito os pacientes e toda a rede familiarEntrevista | Yohei Sasakawa“É uma decepção o Brasil não ter alcançado a meta”Como o Sr. sabe, o Brasil ocupa hoje a segunda posição no ranking mundial de detecção de casos novos de hanseníase. Que leitura o Sr. faz dessa constatação?A meta de eliminação da lepra da Organização Mundial de Saúde é de um paciente para cada 10 mil habitantes. Atualmente, quatro países não atingiram essa meta: Brasil, Nepal, Moçambique e Congo. A Índia tem o mais alto índice de pessoas afetadas pela lepra no mundo, contudo o país tem atingido a meta da OMS. Certamente o Brasil vai alcançar essa meta em um futuro próximo. O Sr. acredita que o Brasil trata com descaso a eliminação de hanseníase no país?Visito o Brasil quase todos os anos e o governo brasileiro certamente está fazendo um grande esforço para eliminar a lepra. É um grande decepção que vocês ainda não tenham alcançado a meta. Mas, na última década, por sucessivas vezes, o Brasil comprometeu-se a reduzir o número de doentes de hanseníase, definiu metas junto à Organização Mundial da Saúde e não as cumpriu. O que, na sua opinião, falta para o Brasil conseguir essas metas? Até onde sei, o presidente tem demonstrado grande interesse e profissionais da área de saúde estão se esforçando para atingir essa meta. Enquanto embaixador das Nações Unidas para a hanseníase, qual a sua maior preocupação com relação à doença no mundo?Desde 1990, 20 milhões de pessoas no mundo foram diagnosticadas com essa doença. Contudo, a batalha para diminuir o estigma e o preconceito que envolvem essa doença e para permitir que as pessoas infectadas possam fazer parte da sociedade ainda não está terminada. Estou agora trabalhando para que a lepra seja considerada uma questão de direitos humanos pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU. Certamente poderia contar com seu aconselhamento na minha próxima visita ao Brasil.José Freitas / Agência Senado A luta pelo fim da hanseníase no mundo resume a vida do japonês Yohei Sasakawa, embaixador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Eliminação da Hanseníase. Há 40 anos dedicado à defesa dos vitimados pela hansen, a maior empreitada de Sasakawa no momento é fazer com que a doença seja reconhecida como uma questão de direitos humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) discute a proposta de Sasakawa. Segundo ele, existem cerca de 20 milhões de pessoas afetadas pela doença no mundo. Somente no Brasil, nos últimos dez anos, foram cerca de 500 mil. O impacto familiar chega a 100 milhões de pessoas no planeta. A maioria enfrenta discriminação.Yohey Sasakawa preside a Nippon Foundation, instituição sediada em Tóquio, Japão, de onde falou para o Diario. A agenda de Sasakawa inclui debates diversos no mundo – sobre o direito marítimo dos EUA e Japão ou sobre a promoção da paz. A Nippon é a maior fundação de caridade do Japão. É afiliada à Fundação Sasakawa, criada em 1947 pelo pai dele, Ryoichi Sasakawa, para eliminar a hansen. Desde 1975, integra a Federation of Anti-Leprosy Associations.O embaixador acredita que a discriminação aos hansenianos ainda não foi reconhecida como violação de direitos humanos porque os pacientes e suas famílias mantêm-se resignados ou escondidos da sociedade. É o que acontece com a família de dona Maria, de Paulista (PE). Ela é mãe de um garoto de 9 anos e duas garotas de 15 e 12, que têm hansen e escondem o segredo. Temem passar por preconceito igual ao vivido pela prima, de 12 anos, que mudou de escola após ser alvo de xingamentos no colégio.Marcas de uma cidadeCampo Alegre do Fidalgo, a 93 quilômetros de Teresina (PI), parece ter brotado de uma obra de ficção. Pouca gente na rua, animais pastando na frente das casas, clima de feriado em dia de semana. Estamos no Piauí, num clima de 38 graus. Com menos de 5 mil habitantes, Campo Alegre do Fidalgo carrega uma marca difícil de apagar. Lá todos sabem o que é hanseníase. Inclusive as crianças.Era 2006 quando a lição foi aprendida. Dez pessoas adoecerem ao mesmo tempo. O pânico tomou conta dos moradores. “Quando estourava qualquer mancha, o pessoal corria ao posto de saúde. Teve até fila para vacinar. Muitos pensavam que iam morrer”, lembra a enfermeira Silvana Ribeiro, que coordena o único Posto de Saúde da Família (PSF) da cidade.Hoje, a qualquer sinal de mancha as pessoas buscam o PSF. “Dei fé da mancha na perna dela no banho. Achei estranho”, conta a dona-de-casa Débora da Conceição, mãe de Maria Aparecida, 5 anos. A garota está em tratamento desde o ano passado . A preocupação termina sendo favorável aos moradores. Poucos têm seqüelas porque agem rápido diante dos primeiros sintomas.A enfermeira Silvana acredita que a contaminação foi facilitada pela convivência muito próxima dos habitantes, que são casados entre si e integram principalmente a família Dias. “Todos freqüentam o mesmo ambiente. Passam o bacilo pelo ar”, sustenta.Após o furacão, os moradores esperam. Nas calçadas, durante a conversa depois do almoço, falam de uma epidemia que ainda pode estar por vir. Temem o pior. Mas, no íntimo, sabem que agora estão melhor preparados para a guerra.