Doze anos de saudades de Bacurau

Doze anos de saudades de Bacurau

Uma pessoa que sofreu discriminação, enfrentou uma doença cruel e teve coragem de lutar por melhores condições de vida e pelos direitos dos portadores de hanseníase. Em poucas palavras esta é a definição que traduz a vida de Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau. Na próxima segunda-feira, 12, o MORHAN Rio Branco faz um ato público no Senadinho para lembrar os 12 anos da morte de Bacurau, falecido em 1997. Os integrantes do Movimento no Acre farão uma homenagem no Senadinho a partir das 9h. A programação “Doze anos de saudades de Bacurau” encerra com uma missa na Catedral, às 19h. Para a viúva de Bacurau, Terezinha Prudêncio da Silva, a grande contribuição do marido foi a fundação do MORHAN. “Antes do movimento o preconceito era muito grande, pior que a própria doença. Depois, o preconceito diminuiu bastante porque a doença passou a ser mais divulgada, esclarecida e as pessoas passaram a ter mais acesso a informação sobre a hanseníase”. O MORHAN foi fundado por Bacurau em 1981 quando ele fazia tratamento em Bauru (SP). Em seguida, ele trouxe o movimento para o Acre. “A sociedade mudou de opinião a partir do trabalho que desenvolveu. Ele doou a vida pelos menos favorecidos, porque não sabia lutar por seus direitos, não sabia ir ao hospital fazer o tratamento, pedir medicação. Hoje os portadores de hanseníase no Acre andam de cabeça erguida, todos usam o direito de ir e vir”, disse Terezinha. Para Elenil Silva de Souza, o Bil, filho de criação de Bacurau, a lembrança mais marcante do pai é a coragem que ele tinha de lutar pelos direitos das pessoas e pelo fim do preconceito. “Ele sofreu demais e começou a sofrer muito cedo. A luta dele em prol dos necessitados me faz continuar o trabalho que ele começou”, conta.  Hoje, o MORHAN Acre é presidido por Élson Dias, filho de ex-portador de hanseníase. “Bacurau foi embora mas sua mensagem ficou e agora precisamos fazer com que este trabalho nunca acabe. Ele deixou a semente, uma lição de vida. Hoje as dificuldades são menores mas é preciso manter a luta viva através de palestras, de trabalhos educativos e de apoio aos pacientes e ex-portadores, porque a informação ainda é um grande remédio contra o preconceito”, concluiu. Francisco Augusto Vieira Nunes, o Bacurau Foi um colega de quarto de um hospital em Porto Velho (RO) que apelidou Francisco Augusto Vieira Nunes de Bacurau. Aos cinco anos de idade, ele começou a apresentar os primeiros sintomas da doença e toda sua família passou a ser discriminada e sofrer preconceito. Bacurau nasceu em Manicoré, no Amazonas. Em 1961, pediu para ser internado na Colônia Souza Araújo, em Rio Branco, após fazer tratamento em Rondônia. Na Souza Araújo, Bacurau alfabetizou crianças, jovens e adultos e passou a trabalhar na roça para se manter. Tornou-se prefeito da colônia e, por volta da década de 70, iniciou o movimento de reintegração dos pacientes à sociedade. Iniciou sua carreira de escritor em 1978, lançando seu primeiro livro “A Margem da Vida”. Foi dele a idéia de criar o Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase). O movimento foi criado em 1981, em Bauru (SP), onde ele deu continuidade ao tratamento e intensificou as discussões sobre as condições de vida das pessoas atingidas pela doença. De volta ao Acre, fundou o Morhan em Rio Branco e passou a viajar para fundar o movimento em outros estados e dar palestras sobre a luta contra o preconceito. Em 1990, recebeu o Prêmio Internacional de Associação Amigos de Raoul Follereau de Savana, na Itália, que homenageou pessoas e entidades que lutam em defesa da m