“Elas serão minhas herdeiras”

“Elas serão minhas herdeiras”

Ney Latorraca, de 65 anos, herdou da mãe, dona Tomaza Josephina Pallares, chamada carinhosamente de Nena, o hábito de ajudar o próximo. Com 46 anos de carreira, o ator sempre emprestou sua imagem para campanhas beneficentes e instituições de caridade. “Já fiz várias campanhas. Acho que os atores têm essa coisa de ser generosos no DNA, porque nos doamos através de nossos personagens. É importante ser solidário”, afirma ele. Mas a vontade de fazer algo maior surgiu depois de uma conversa que teve com dona Nena, em 1994, pouco antes de ela morrer. “Ela disse que em vez de eu ficar nesse pinga-pinga, só fazendo campanhas, poderia fazer uma coisa maior, oficial. Ajudar de forma mais concreta as instituições de que eu gosto. Resolvi abraçar a sugestão da minha mãe e doar meus bens”, afirma Ney. Sem herdeiros diretos, em 1996, dois anos após perder a mãe, o ator fez um testamento no qual deixa oito imóveis, avaliados em mais de 1 milhão de reais, para quatro instituições: a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) e o Retiro dos Artistas, ambas no Rio de Janeiro, o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids, o Gapa-Baixada Santista, em Santos, São Paulo, e o Movimento pela Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. “Já consegui tudo o que eu queria, sou uma pessoa realizada e feliz, então tenho que cooperar. Foi tudo dividido para ajudar essas pessoas. Fiz tudo como manda a lei. Quando eu morrer, elas serão minhas herdeiras.” Além do testamento, Ney também faz questão de ir aos lugares que serão beneficiados por sua decisão. Como mora no Rio, as instituições mais visitadas por ele são o Retiro dos Artistas e a ABBR, entidade que cuida de pessoas portadoras de deficiência física e mental. Por dois anos, Ney passou o Natal no Retiro do Artistas, no bairro de Jacarepaguá. Ele costuma ir ao local durante a semana, sem avisar, para conversar e almoçar com os atores que, por falta de recursos, residem lá. “Gosto de ir, levo talco e perfume, mas eles sempre perguntam: ‘Não trouxe o Viagra? E a maquiagem?’”, brinca Ney. “Eles têm vida, continuam vaidosos e eu levo”, diz. Para ele, mais do que a doação, é a atitude que vale. “A generosidade está no dia a dia, nas pequenas ações. É ser generoso com as pessoas que estão a seu lado. Respeitar o ser humano é o grande exercício da generosidade.” Ele também faz visitas frequentes à ABBR, onde gosta de conversar com as crianças, principalmente as que possuem paralisia cerebral. “Vou lá para vê-las, porque elas querem ver gente. Não é só ajudar com dinheiro, elas querem carinho e atenção”, diz. Quando está em Santos, cidade paulista onde nasceu, Ney não deixa de visitar o Gapa-Baixada Santista. “As crianças me adoram”, afirma ele, que é patrono da instituição desde 1995. Por Luciana BarcellosFonte: Revista “Quem”