Brasília – Depoimentos de pessoas com hanseníase que viveram em hospitais-colônia emocionaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de assinatura da medida provisória que institui o pagamento de pensão para portadores da doença, que foram isoladas da sociedade. Antes de iniciar o discurso, Lula deu a palavra a José Arimatéia Costa, que perdeu as mãos, a visão e um dos pés por causa da doença. Ele foi levado aos seis anos a um hospital colônia. “Quando eu recebia a visita dos meus pais, eles não tinham o direito de tocar nas minhas mãos, havia sempre uma barreira de vidro”, lembrou Costa. Ele disse que a pior seqüela causada pela doença é o preconceito. E disse que seu sonho de ingressar no Exército foi frustrado por causa da discriminação. Hoje, Costa ainda vive em um dos 33 hospitais-colônia que existem no país, mas por opção. Ele foi eleito pelos demais doentes internados para ser o administrador da colônia. “Vivo lá por opção, porque trabalho lá, mas sou uma pessoa que vou e venho de cabeça erguida, porque não tenho nada a temer. Sei que me tratei, sei que posso freqüentar a sociedade e buscar os meus direitos, sendo sabedor dos meus deveres”, afirmou. Valdenora Cruz, que falou na cerimônia em nome do Movimento das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, afirmou que o momento era histórico para o Brasil. Ela contou que foi levada de barco aos nove anos para um hospital-colônia. “O dono do barco não quis deixar eu vir dentro do barco, e sim, em uma canoa a reboque”, disse. Cristiano Torres, da colônia de Marituba, no Pará, também subiu ao palco da cerimônia para contar sua história. Ele chegou a pedir ao presidente Lula a caneta com que foi assinada a medida provisória. “Vou colocar em um museu”, disse. Ele disse que nasceu em um hospital-colônia e foi separado dos pais assim que nasceu. Voltou ao hospital aos seis anos. “Como uma coisa tão pequena (a doença) tem esse poder de separar os seres humanos?”, questionou. O cantor Ney Matogrosso é um dos defensores dos direitos de quem tem hanseníase. Ele defende que a população precisa ser melhor informada sobre a doença. “Eu acho que o grande gerador do preconceito com relação a essa doença é exatamente a ignorância, é não saber que a doença tem cura, tem remédio, as pessoas que tomarem as primeiras doses já não contaminam as outras. Essa falta de informação é que gera esse enorme preconceito”, afirmou o artista. Fonte: Agência BrasilFoto: Roosewelt Pinheiro/ABr