Exame genético ajudará a encontrar familiares separados pela hanseníase.

Exame genético ajudará a encontrar familiares separados pela hanseníase.

Programa interinstitucional realizará exames de DNA para identificar familiares separados pelo isolamento de pacientes com hanseníase.A luta de 40 mil brasileiros pelo reencontro de mães, pais e irmãos separados de suas famílias pelo isolamento compulsório de pacientes com hanseníase ganha mais um aliado: a genética. O Programa de Identificação de Familiares Separados pelo Isolamento Compulsório de Pessoas com Hanseníase, idealizado pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), será lançado nesta terça-feira, 23 de agosto, às 14h, na Fiocruz. A iniciativa é resultado de uma parceria com o Instituto Nacional de Genética Médica Populacional (Inagemp) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.“O Programa de Identificação de Familiares Separados pelo Isolamento Compulsório de Pessoas com Hanseníase é inspirado na história das Avós da Praça de Maio, que também utilizaram exames genéticos para reencontrar seus netos, filhos de cidadãos desaparecidos durante a ditadura militar, na Argentina”, conta o conselheiro nacional de saúde Artur Custódio, coordenador nacional do Morhan. Para a experiência brasileira, o Morhan mapeará o histórico familiar e os documentos de pessoas que já identificaram prováveis familiares, para que o exame genético comprove os laços de parentesco.A geneticista Lavínia Schuler Faccini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que integra o Inagemp, explica o exame de DNA será feito a partir de amostras de saliva. “A coleta de saliva não é invasiva, como a de sangue, e por isso facilita o manejo clínico. Para contemplar todo o território nacional, o Programa utilizará um recipiente capaz de preservar a amostra clínica por tempo suficiente para o transporte até o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, onde análises moleculares serão realizadas, em um processo que pode levar até quinze dias”, esclarece a especialista.Durante o lançamento da iniciativa, Maria Teresa da Silva Santos Oliveira e Marisa Ferreira dos Santos, nascidas em hospitais-colônias, assinarão o primeiro termo de adesão ao Programa de Identificação de Familiares Separados pelo Isolamento Compulsório de Pessoas com Hanseníase, que autoriza a coleta de amostras de saliva para o exame de DNA. Teresa e Marisa são duas dos milhares de brasileiros que, quando crianças, foram separados de suas mães e entregues à adoção. Somente após a morte de seus pais adotivos, Teresa conheceu a sua origem e começou a investigar a instituição onde nasceu. “Descobri que, até os quatro meses de idade, vivi em um antigo hospital-colônia, com o nome de Maura Regina. Também encontrei diversas cartas de minha mãe biológica, em busca de meu paradeiro”, conta Teresa. A partir do caso de Teresa, o Morhan iniciou um trabalho de cadastro de filhos separados dos pais, que hoje soma 1200 indivíduos. Quando o nome Marisa Ferreira dos Santos foi cadastrado, a equipe do Morhan percebeu que ela tinha nascido no mesmo hospital-colônia que Teresa – e que suas mães tinham o mesmo nome. Agora, o exame de DNA comprovará as pistas que indicam o parentesco entre as duas.Entenda o isolamento compulsórioNo Brasil, até a década de 1980, a lei federal nº 610 de 13 de janeiro de 1949 recomendava o isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase, que eram então mantidos em colônias. A mesma lei ordenava a entrega dos bebês de pais com hanseníase à adoção, o que levou à separação de milhares de famílias. Esta situação perdurou até 1986, quando os antigos hospitais colônias – então chamados leprosários – foram transformados em hospitais gerais. “Os muros foram derrubados, os portões abertos, mas a luta pelo reencontro destas famílias ainda continua”, revela Artur.Envolvido na promoção da saúde e da cidadania de pacientes com hanseníase e seus familiares, o Morhan desenvolve um extenso trabalho na busca de reunir as famílias separadas pelo isolamento compulsório dos pacientes com hanseníase e de reparar os danos causados por esta política, vigente no país até a década de 1980. Um trabalho importante realizado nesta área é a mobilização para a aprovação, pela presidente Dilma Rousseff, de legislação que garanta a indenização dos filhos separados de seus pais, conforme recomendação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. Hoje, a lei federal nº 11.520 de 18 de setembro de 2007 dispõe sobre a concessão de pensão especial às pessoas atingidas pela hanseníase que foram submetidas ao isolamento compulsório – porém, o benefício não se estende aos seus filhos.“Desde 2010, o Conselho Nacional de Saúde recomenda a aprovação de uma medida provisória que estenda as ações de reparação e indenização aos filhos separados dos pais durante a fase do isolamento compulsório de pacientes com hanseníase”, defende o coordenador nacional do Morhan. Neste contexto, o movimento social, apoiado por artistas como Ney Matogrosso, Elke Maravilha e instâncias como a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, vem promovendo audiências públicas em todos os Estados brasileiros, com o objetivo de fortalecer o debate sobre o tema e a reivindicação da medida provisória que estenda o benefício aos filhos das pessoas submetidas ao isolamento compulsório.Sobre o InagempO Instituto Nacional de Genética Médica Populacional (Inagemp) é um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Inagemp é composto por pesquisadores do Hospital das Clínicas de Porto Alegre; do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz (IOC/Fiocruz); da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Rio Grande do Sul (URGS).SERVIÇOLançamento do Programa de Identificação de Familiares Separados pelo Isolamento Compulsório de Pessoas com Hanseníase, desenvolvido pelo Morhan em parceria com o InagempData: Terça-feira, 23 de agosto, às 14hLocal: Fiocruz