Hanseníase poderá ser detectada em tempo real

Hanseníase poderá ser detectada em tempo real

É possível que em pouco tempo a população brasileira possa encontrar nas farmácias um equipamento que vai identificar, em tempo real, a existência do bacilo da hanseníase nos infectados pela doença e que não manifestaram os sintomas. A tecnologia que vai permitir esse diagnóstico é genuinamente uberlandense. Foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e está na fase de finalização e padronização do sistema. A próxima etapa é a validação da tecnologia por meio de testes e de comparações dos resultados com os exames convencionais que já são feitos por especialistas. A proposta é que os aparelhos sejam portáteis, tenham um custo baixo para o usuário e que possam ser utilizados principalmente em bancos de sangues, hospitais, clínicas e laboratórios públicos e privados do País.A hanseníase é endêmica e não tem prevenção primária, ou seja, não tem imunização específica como uma vacina, por exemplo. A doença tem tratamento e cura. Entretanto, o período de incubação é longo, o que dificulta o controle, mesmo porque um indivíduo infectado pode propagar a doença. Em Uberlândia, estão em tratamento 92 pacientes. No ano passado, surgiram 90 novos casos. Segundo a coordenadora do Centro de Referência Nacional em Hanseníase e Dermatologia Sanitária da UFU, Isabela Goulart, esses números permanecem sem grandes variações nos últimos anos. “Mas estão diminuindo lentamente”, disse.A maior preocupação dos especialistas é com o grupo de risco. São pessoas que convivem com os doentes nos últimos cinco anos. Estes seriam os principais usuários dos equipamentos desenvolvidos na universidade. “Estamos monitorando mais de 1,5 mil pessoas, mas não podemos afirmar que eles possuem a doença porque ainda não manifestaram”, conta Isabela Goulart. O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo e o primeiro das Américas em números de casos de hanseníase: são 4,3 doentes por 10 mil habitantes. Em Uberlândia, a taxa de prevalência é de 1,5 caso. Já a taxa de detecção (novos casos) é um pouco maior, mas permanece abaixo do índice de 2 casos por 10 mil pessoas.A pesquisa da UFU é fruto de um trabalho de mais de dois anos. Estão envolvidos vários alunos, mestres, doutores e pós-doutores do laboratório de Filmes Poliméricos e Nanotecnologia do Instituto de Química, do laboratório de Genética e Bioquímica e do Centro de Referência em hanseníase. O projeto foi financiado por órgãos de fomento à pesquisa e já recebeu cerca de R$ 210 mil para a aquisição de equipamentos e reagentes. “São recursos investidos em ensino e em desenvolvimento de tecnologia que vão trazer benefícios para a própria população que nos financia. Somos uma instituição pública que presta serviço para a comunidade. Nossa intenção é trabalhar com as chamadas doenças negligenciadas. Aquelas que são típicas dos países tropicais e que não são alvo dos grandes laboratórios”, afirma o professor e coordenador da pesquisa João Marcos Madurro. Além da hanseníase, esta mesma equipe multidisciplinar da UFU trabalha também com a dengue, hepatite C e malária. Os trabalhos estão em diferentes graus de andamento.Equipamento funcionará como um glicosímetroO equipamento desenvolvido na UFU para detecção da hanseníase vai funcionar como o glicosímetro, um aparelho bastante conhecido da população usado por diabéticos para medir a taxa de glicemia no sangue. Entretanto, os princípios e a tecnologia dos dois são diferentes. O biossensor que identifica a hanseníase vai funcionar com uma amostra de raspagem da área infectada do doente. “Vai ser mais prático e simples do que a técnica convencional que precisa de mão-de-obra especializada para ser feita”, explica a professora e pesquisadora Ana Graci Brito Madurro, do Instituto de Química.Foram desenvolvidas vári