Homenagem ao nosso amigo Governador Tião Viana

Homenagem ao nosso amigo Governador Tião Viana

O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, o Morhan, completa 30 anos este mês. Recebi essa bonita homenagem da Dona Maria de Jesus durante a cerimônia de aniversário agora há pouco na Biblioteca Pública.

 

“Excelentíssimo senhor governador Tião Viana,

 

As lembranças feitas que mancham a nossa história são indeléveis como as marcas que trazemos no corpo e na alma.

 

Ainda hoje, quando nossas deficiências são analisadas pelo olhar de quem desconhece a hanseníase nos faz pensar que num passado não tão distante as pessoas nos olhavam com medo, com repulsa, por preconceito ou desinformação.

 

A condição de hanseniano nos tornou “os indesejáveis” que deviam ser excluídos do convívio social. A doença havia mudado a nossa anatomia e isso feria os olhos da sociedade.

 

A dormência que a hanseníase causa deixou várias lesões e mutilações no nosso corpo, sim. Mas foi a insensibilidade de muitas pessoas que provocou as feridas que mais doem e que ninguém vê porque estão alojadas nas nossas almas.

 

Quanto de nós desejávamos um abraço ou um aperto de mão no lugar de uma dose de remédio. E quantas vezes isso nos foi negado porque as pessoas repeliam nossa aparência sem imaginar sem imaginar que nossas almas agonizavam com a solidão e o abandono.

 

Até que alguém passasse a nos olhar além das nossas deficiências, muitas migalhas nos foram atiradas. Mas nós não queríamos fragmentos de pretensa caridade. Queríamos a oportunidade para lutar contra o medo de ser rejeitado e sair da condição de confinados.

 

Governador, como político vossa excelência não mediu esforços para que fossemos contemplados com a pensão vitalícia, por segregação compulsória. Esse benefício tem nos proporcionado uma qualidade de vida bem melhor, algo jamais imaginado por nós.

 

Portanto senhor governador, nossa gratidão ao político que se preocupou com o bem estar do seu povo, nossa gratidão ao homem que, apesar de tantas décadas depois, foi capaz de descobrir um jeito de colocar uma moldura bonita na velha fotografia em preto e branco…

 

Nada pode reparar a dor que já foi sentida. Mas, mesmo quando a ferida é profunda com um bom tratamento é possível suavizar as cicatrizes…

 

Obrigado por tudo que tem feito em prol dos ex-asilados das colônias.” 

 

Maria de Jesus