A partir da década de 30, com a política segregacionista de Getúlio Vargas, milhares de pessoas com hanseníase foram levadas para os 33 antigos hospitais-colônia. Nesta quarta-feira, pela primeira vez na história do país, moradores de uma dessas unidades terão direito ao uso dos imóveis onde vivem desde então. A partir de uma iniciativa do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), o governo do estado fará a entrega do termo de promessa de concessão de uso, com vigência de 99 anos (prazo renovável), para internos do hospital-colônia do Curupaiti, hoje Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária (Iedes), em Jacarepaguá. A entrega será feita nesta quarta-feira, dia 10 de março, às 9h. – A iniciativa resgata a cidadania dos internos que, até então, não tinham sequer endereço. Até mesmo as correspondências recebidas precisavam ter o endereço do hospital. Este ato vai em sintonia com o que está sendo discutido pela comissão de Direitos Humanos nas Nações Unidas – afirma o conselheiro nacional de Saúde e coordenador nacional do Morhan, Artur Custódio Moreira de Souza. A entrega do termo de promessa de concessão de uso será presidida pelo governador Sérgio Cabral; secretário estadual de Habitação, Leonardo Picciani; e o presidente do Instituto de Terras e Cartografia do Estado, Leonardo Azeredo. Uma caravana com pacientes de várias estados, como Ceará, Paraná e Pará, estará no antigo hospital-colônia do Curupaiti para acompanhar a solenidade e tentar levar para seus estados a iniciativa. A concessão de uso se soma a outra conquista recente: a aposentadoria vitalícia para pessoas que foram compulsoriamente internadas em antigos hospitais-colônia, no valor de R$ 750. – É uma vitória porque, banidos da sociedade no passado, os internos não puderam estudar; trabalhar somente dentro dos limites da própria colônia, assim como namorar, casar e ter filhos, tudo com autorização do diretor local – explica Artur Custódio. O Brasil é o primeiro país no mundo em incidência de hanseníase, seguido pelo Nepal e Timor Leste, e o segundo em números absolutos da doença. São cerca de 40 mil novos casos a cada ano. Cerca de 8{deccdd85071b3acddfab05bd5c5ba5310fd81d998ef01e5aec4f6f90a92afc1f} a 10{deccdd85071b3acddfab05bd5c5ba5310fd81d998ef01e5aec4f6f90a92afc1f} da população acaba ficando com sequelas, devido ao tratamento tardio, embora a hanseníase seja uma doença com cura em 100{deccdd85071b3acddfab05bd5c5ba5310fd81d998ef01e5aec4f6f90a92afc1f} dos casos. Parte dessas pessoas são crianças, adolescentes e jovens. – Recebemos denúncias sobre falta de capacitação de médicos para atender o paciente e até mesmo postos de saúde sem a poliquimioterapia, usada no tratamento e fornecida gratuitamente ao país pela Organização Mundial de Saúde, conforme indicam os registros do Telehansen 0800-26-2001, serviço de atendimento telefônico gratuito mantido para a população. Embora a OMS preconize até um caso por grupo de 10 mil habitantes, temos bolsões da doença no país com 10, 12, 15 casos/10mil – destaca o coordenador do MORHAN. Colaborou: Claudia Silveira