Muita gente não sabe, ou já se esqueceu, de que em dado momento histórico, entre 1930 e 1970 – na “Era Vargas” e no “Estado Novo”, o Brasil viveu um momento de repressão que em muito se assemelha ao holocausto imposto aos judeus. Essa discriminação nacional ganhou o nome de “Isolamento Compulsório” e era imposta aos portadores de hanseníase, antigamente conhecida como lepra, como forma de separá-las do convívio de pessoas tidas como saudáveis. Nesse procedimento, os doentes eram separados do ambiente social de forma repentina e “internados” em instituições fechadas, conhecidas como “leprosários” ou hospitais-colônia, ditas para o tratamento.Segundo descrevem a assistente social Selma Munhoz Sanches de Castro e a Professora de Prática de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Helena Akemi Wada Watanabe, no artigo científico “Isolamento compulsório de portadores de hanseníase: memória de idosos”, “no Brasil, a partir de 1924, o governo federal decidiu assumir o controle da hanseníase pela internação compulsória, com base no pressuposto de que, retirando o doente das ruas ou estradas, estaria salvaguardando a sociedade sadia: “Ainda sem um medicamento específico para a cura, o isolamento foi determinado como essencial, e tornou-se mais importante que o próprio tratamento” (Cunha, 2005, p.4). O indivíduo com suspeita da doença era caçado pela Guarda Sanitária e isolado compulsoriamente em algum hospital-colônia, na época conhecido como leprosário (Auvray, 2005)”.Lá essas pessoas eram mantidas presas, e muitas vezes nunca mais chegavam a rever seus familiares.Quando tinham filhos, as crianças eram arrancadas de seu convívio assim que se dava o nascimento, e enviadas para “educandários”, de onde seguiam muitas vezes para adoção, quando sobreviviam. Diversas crianças relatam ter sofrido violência, abuso sexual e ingestão forçada de drogas que podem ter deixado graves consequências à saúde mental.Encontro de geraçõesDepois de décadas de separação, o Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), criou uma base de dados que reúne arquivos dos internados nos antigos hospitais-colônias e dados de seus filhos, separados no nascimento, e organiza o primeiro “Encontrão” de filhos separados pelo isolamento compulsório do estado de São Paulo. A maior parte da movimentação é promovida pelo braço em Barueri da instituição, que marcou para o dia 20 de março, em Itu, numa ex-colônia conhecida como “Pirapitingui”, o reencontro histórico de crianças, hoje já adultos, deixados sem paradeiro pelo política dita como de saúde pública, executada pelo Estado, no passado.Os conselheiros do Morhan redigiram uma recomendação direta ao então presidente Luís Inácio Lula da Silva, para solicitar em caráter de urgência uma indenização aos filhos separados de suas famílias, e foram recebidos por Ministros em Brasília. Por hora, eles formatam tecnicamente como deverá ser paga a quantia.A ideia do Movimento era que o encontro acontecesse em Barueri, onde é sediado o principal núcleo de articulação do evento, mas como ainda não foi efetivado um contato com as autoridades do município, a reunião segue por enquanto marcada em Itu.História do MorhanExistente há quase 30 anos, o Morhan, fundado em 6 de junho de 1981, nasceu com o propósito de trazer informações corretas sobre a hanseníase e desmistificar o tema, esclarecendo dúvidas tanto dos portadores da doença quanto dos não portadores. A ideia do movimento é ainda, baseado em seu trabalho direcionado, erradicar o preconceito acer