Cerca de 500 pessoas de várias cidades participaram no último domingo (20) do 1.º Encontrão dos filhos separados pelo isolamento compulsório do Estado de São Paulo. O evento coordenado pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) ocorreu no Centro Esportivo Cultural e de Lazer do Pirapitinigui, em Itu. Autoridades dos governos federal, estadual e municipal estiveram presentes para discutir a reivindicação do movimento, que pleiteia indenização pelo “sofrimento” e “injustiça” cometidos contra os filhos de pacientes de hanseníase privados do convívio de seus pais. A coordenadora do Morhan de Barueri, Tereza de Oliveira, informou que o trabalho em busca de filhos separados dos pais por conta da hanseníase começou há cerca de um ano, com o lançamento de formulários pela internet, para levantar o número de pessoas nessa situação. “Recebemos cerca de 7 mil formulários”, calculou a coordenadora, também filha de paciente com hanseníase. Segundo dados do IBGE, existem em torno de 30 mil pessoas: filhos separados dos pais que eram pacientes de hanseníase. Caminhos legais A representante da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Sueli de Paula Dias, informou que deve ser formado um grupo de trabalho para levantar dados e estudar as reivindicações. A minuta do decreto para criação do grupo está na Casa Civil e aguarda avaliação da assessoria jurídica. Assim que o decreto for publicado no Diário Oficial será formado o grupo. A partir daí os integrantes terão 180 dias, que pode ser prorrogado por mais 180 dias, para levantar os dados. Ela explicou que a lei federal 11.520/2007, concede pensão vitalícia de R$ 730 para 6,2 mil pacientes de hanseníase. O secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Departamento DST/Aids e Hepatites Virais, Eduardo Luiz Barbosa, informou que, embora poucos, ainda existem casos da doença. “Quando diagnosticado tardiamente deixa deformidades”. Ele explicou que as unidades básicas de saúde estão preparadas para detectar, tratar e encaminhar conforme sua especificidade. “Era proibido” Aos 54 anos de idade, Rita Evangelista da Silva não chegou nem a conhecer sua mãe. Ela foi uma das crianças separada logo após o nascimento, no Instituto Laura Souza Lima, o antigo Hospital Aymorés de Bauru. “Sou filha única e nem cheguei a mamar quando nasci”. Por ironia do destino ela trabalha atualmente no instituto. Tarcísia Rangel Miranda, 69, foi tirada da mãe aos 5 anos, em Betim (MG). Viu a história se repetir pouco mais de uma década depois ao ter a filha Edna tirada aos 8 anos, quando foi internada com a mesma doença, no Sanatório Santa Izabel, em Minas. “Não deixavam visitar. Era proibido. Mesmo assim conseguimos manter contato”, disse.