Na Índia, representantes do Morhan denunciam despreparo da rede de saúde para lidar com a hanseníase

Na Índia, representantes do Morhan denunciam despreparo da rede de saúde para lidar com a hanseníase

EVENTO DA OMS

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Na Índia, representantes do Morhan denunciam despreparo da rede de saúde para lidar com a hanseníase

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Faustino Pinto e Ana de Sousa (à esquerda na foto) participaram do encontro representando o Morhan. Faustino defendeu a reformulação da terminologia utilizada pela OMS em relação à doença

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O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) participou de um encontro internacional realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em Nova Delhi, na Índia, chamado “Informal Consultation on stopping discrimination and promoting inclusion of persons affected by leprosy” (“Consultoria informal sobre o enfrentamento à discriminação e a promoção da inclusão de pessoas afetadas pela hanseníase”, em livre tradução). Faustino Pinto, da coordenação nacional do Morhan, e a Dra. Ana de Sousa, voluntária do movimento que também atuou como intérprete, se reuniram de 14 a 16 de novembro com representantes de usuários e movimentos sociais de diversos países para discutir estratégias de enfrentamento à discriminação sofrida por pessoas atingidas pela hanseníase

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Em sua fala no primeiro dia de evento, Faustino defendeu a efetivação da universalidade, da equidade e da integralidade da atenção à saúde da população, com respeito aos direitos humanos, como estratégias necessárias no Brasil e no mundo. Ele denunciou a grave situação do país, que possui a mais alta incidência da doença, com quase trinta mil novos casos por ano, destacando o problema da falta de diagnóstico precoce da hanseníase, que tem como consequência o desenvolvimento de sequelas que seriam evitáveis com o tratamento.

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Um elemento central para entender esse cenário é a discriminação e o estigma associados à doença, inclusive por parte de profissionais de saúde, que deveriam zelar por um atendimento humanizado e estar bem informados sobre o tratamento e a cura da hanseníase, o que infelizmente não é a regra. “Nos assusta o crescimento do número de profissionais de saúde que acreditam na cultura do medo como ferramenta de adesão ao tratamento da hanseníase”, alertou o representante do Morhan.

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Para ele, “não existe outro meio de combater isso que não seja pela educação, informação e empoderamento de um povo contra todas as formas de discriminação, seja contra mulheres, gays, negros, pessoas com deficiências – as pessoas atingidas pela hanseníase estão inseridas em todas essas supostas minorias”.

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As palavras importam

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Entre as propostas apresentadas por Faustino em Nova Delhi, aquela que mais provocou debate foi a sugestão de que a OMS modifique a terminologia que utiliza para abordar a hanseníase, abandonando definitivamente o termo “lepra”, e todo o seu histórico de estigma e desinformação.

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Confira um trecho do discurso do integrante da coordenação do Morhan: “Se realmente quisermos eliminar a lepra do mundo, ajudar as pessoas a não sofrerem mais por causa do preconceito, estigma e discriminação, precisamos começar pelo nome. Essa palavra um dia foi útil, quando as doenças não tinham nomes próprios, mas hoje como vamos falar para as pessoas que queremos acabar com o preconceito e discriminação se ainda continuamos usando conceitos errados advindos da bíblia em pleno século XXI? A doença tem nome, é hanseníase. É preciso que as pessoas conheçam o nome científico para compreender melhor essa doença”.

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Como resultado, a proposta foi endossada e incluída no documento final do encontro uma recomendação para a discussão sobre os termos e a utilização de referências respeitáveis em relação à doença, a depender do contexto dos países. O encontro é uma etapa preparatória e deve influenciar o debate de novos encontros internacionais, que serão realizados em dezembro, e incluirão também representantes de profissionais de saúde e gestores.