Nas lembranças que marcam o tempo, restaram lições que jamais serão esquecidas. É necessário repensar conceitos e rever as consequências de atitudes preconceituosas. Muitos sofreram e outros ainda sofrem diante da situação de preconceito e humilhação que não conseguem esquecer. Outros não conseguiram suportar mais, e abreviaram o tempo da vida com o suicídio.Existiam (como ainda hoje existem) os que foram abandonados pela família e tiveram que suportar, no silêncio da vida entre paredes, a maior de todas as dores, a dor imensa da solidão. Mas existiu também quem teve que abandonar a família e, no que embora à primeira vista, até pudesse ser julgado como ato de pai irresponsável, se revela um gesto de amor sem limites, dolorosamente sentido numa cena dramática que meus olhos e coração não esquecem.“Vi lágrimas de um pai sofrido num leito de hospital, depois de várias visitas e perguntas de rotina sobre terra natal e família. Personagem de semblante triste, mas que algum tempo depois, mesmo talvez sentindo um pouquinho de confiança para o desabafo, ainda assim pediu segredo para revelar, falando baixinho, uma única vez, “um pouquinho de sua história”: estava ali escondido, não queria que soubessem onde estava. Teve que sair de casa, às escondidas, para não prejudicar a família, ao descobrir que estava doente. Disse que o filho era gerente de banco e perderia tudo quando a cidade soubesse da doença do pai. O único jeito era sair escondido, sumir no mundo e não mais dar notícias. Já em soluços, pediu desculpas, não podia falar mais. E tentando esconder o rosto, enxugava as lágrimas. Também não tive coragem nem voz para insistir. Nem sabia o que fazer! E assim aquele pai, um ser humano cativante e admirável, revivia noites e dias entre soluços e lágrimas, certamente angustiado por terríveis dilemas: a doença e a dor em si; ter que esconder a sua origem até pra quem queria ajudar; estar distante do filho que amava; pensar que estariam procurando por ele; e afinal, o que a família e os amigos estariam pensando dele?Vendo o que vi, podia sentir quanta angústia na alma daquele homem de bom coração! Vendo o que vi, dá para sentir o sofrimento de alguém rejeitado pela sociedade, ainda mais por motivo de doença que a pessoa não escolhe. Será que um dia aquele filho ‘abandonado’ será capaz de entender o amor deste pai? Passados mais alguns dias de dor e saudade, aquele pai sofrido levou para o túmulo o seu segredo, deixando comigo a dor de sua história. Fonte: Blog Voz Damianense