Matéria retrata o sofrimento de pessoas atingidas pela hanseníase em Betim Minas Gerais

Matéria retrata o sofrimento de pessoas atingidas pela hanseníase em Betim Minas Gerais

 

 

MATÉRIA DO JORNAL O TEMPO

 

 

 

 

PUBLICADO EM 31/05/15 – 03h00 www.otempo.com.br – Veja lá as fotos. – onde se lê a palavra “Lepra” refere -se ao sentido histórico e leia-se Hanseníase.

JOANA SUAREZ

Segundo relatos, mais de dez mil diagnosticados com hanseníase foram internados à força e muitos permanecem lá. A reportagem esteve dois dias na colônia no início da semana passada conversando com os antigos moradores

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“Meu cavaquinho, encordoado, foi pendurado pois não posso mais tocar/ Ao perceber que meu tato eu perdia, duas lágrimas rolaram/ lá se foi minh’alegria”. Quando seu Paulo Luiz Domingues, 82, começou a errar o nota musical em seu instrumento preferido, ele sentiu que a “lepra” começava a deixar marcas eternas em sua vida, no auge dos seus 30 e poucos anos. E é na letra da música que ele também mostra como superou essa desilusão: “Logo pensei… o que eu vou fazer?/ A vida segue, não resolve eu chorar!/ Nada me impede, da música eu gosto/ dela eu não vou deixar!/ Meu cavaquinho não vai parar/ se eu não toco outros deverão tocar!/ Multipliquei o que era um dom: hoje, são muitos a tocar. Mas um dia lá no céu, juntinho a Deus irei tocar”.

 FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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Mesmo doente, Paulo Domingues da Cunha escreveu 45 composições 

A “lepra” levou os dedos da mão, uma perna, o outro pé e, a partir de complicações, lhe tirou a voz e a amada Alaíde Domingues, que também pegou a doença. Seu Paulo não consegue falar direito porque operou a tireoide, mas suas memórias estão em canções, poemas e textos, guardados em cada gaveta da cômoda e no guarda-roupas do seu quarto. Sentado no chão, ele aponta o quadro com a foto de Alaíde em preto e branco em cima da sua cama de solteiro, e diz, com dificuldade, que acabara de completar dez anos da morte dela. A união durou 37 anos na alegria e na doença.

Em pouco tempo de conversa com seu Paulo, o pequeno cômodo se transforma num imenso arquivo de recordações. Quando diagnosticado com “lepra”, ele estava com o enxoval pronto para entrar no seminário de padres. Largou a batina e a cidade de Campo do Meio, no Sul de Minas, para enfrentar muita humilhação. “Está na pasta preta ai dentro (do armário): Reviravolta na História”, indica ele a paródia que escreveu e pede para ser lida em voz alta, enquanto fica com um olhar perdido como se tivesse voltado no tempo. “Estás vendo aquela cidade, moço?/ Nela eu não podia entrar! Só porque era doente/ Não me tratavam como gente/ Me doía o coração/ Trinta e sete anos depois/Daquela mesma cidade/ Eu me torno cidadão”.

Paulo Luiz Domingues recebeu o título de cidadão honorário de Betim por seu trabalho como músico, professor e chefe de enfermagem (função aprendida na prática) na Colônia Santa Isabel, a 40 km de Belo Horizonte. Assim como ele, foram enviados para lá mais de dez mil portadores da hanseníase, doença chamada antigamente de “lepra” – nome carregado de preconceito e sofrimento.

Com a chegada do primeiros internos, em 1932, Santa Isabel se transformou em um verdadeiro “depósito de gente”. Até a década de 80, entrar lá era como ser “sepultado em vida”, lembram os moradores da época. A doença não tinha cura nem tratamento, e as deformidades geravam muito medo nos sadios. A solução encontrada foi isolar os hansenianos, colocando correntes e guardas nas saídas da colônia para impedir que eles saíssem. Assim, viveram literalmente presos durante décadas, por um único motivo: eram doentes.

Desde que “abriram as correntes”, há aproximadamente 30 anos, Santa Isabel passou a parecer um bairro comum. Os grandes pavilhões de internos foram desaparecendo, viraram escolas. Mas as ruínas do hospital, o portal na antiga entrada da colônia, a casa do alto-falante (que avisava os falecimentos e a chegada de mantimentos), o velho cinema e outros imóveis que resistiram ao tempo e ao abandono, revelam um lugar cheio de histórias.

FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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Moradores têm uma vida em comunidade nas ruas da Colônia 

Dentro de casinhas sem quintal, ainda vivem cerca de 200 idosos que foram “trazidos” nas décadas de 30 a 80, e serão a última geração a contar tudo que vivenciaram ali.

A forma como eles chegaram à colônia é talvez a única ferida não curada até hoje. A lembrança começa no aparecimento das manchas vermelhas e caroços no corpo. O diagnóstico do médico parecia o anúncio do fim: “é a lepra”. Muitos eram denunciados por vizinhos e os guardas vinham busca-los. Eles chegavam pela estação de trem e de lá seguiam de carroça até Santa Isabel.

UMA VENCEDORA 

 

FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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A filha de Antônia tinha 5 meses quando ela foi expulsa de casa

 

Dona Antônia Ribeiro Barroso, 81, foi expulsa de Alpinópolis, no Sul de Minas, pela própria mãe. Ainda hoje, ao falar do dia em que soube da doença sua voz fica embargada. “Meu mundo desmoronou. Minha mãe me disse: você não vai passar essa doença para a minha família”, contou. O marido suicidou-se com um tiro no peito deixando um bilhete: “para separar de você, eu prefiro morrer”.

Antônia tinha uma filha de cinco meses, que ainda amamentava.  “Na missa de sétimo dia, eu descobri que minha mãe tinha dado meu bebê”. Nenhum dos sete irmãos quiseram ficar com a criança, com medo de se “contaminar”. Viúva, aos 25 anos, Antônia seguiu para a Colônia Santa Isabel e só descobriu o paradeiro da filha 30 anos depois. Todos os irmãos dela morreram. Já Antônia ficou com sequelas da hanseníase visíveis apenas nos dedos. Feliz e ativa, ela ainda anda pra cima e pra baixo na colônia, que se tornou sua casa há 55 anos.

A primeira coisa que faz quando acorda é passar o batom. Quem vê dona Antônia Barroso, aos 81 anos, lúcida, cozinhando e com um sorriso lindo no rosto, não imagina tudo que essa mulher suportou. “Minha mãe ameaçou contar para os outros que eu era leprosa se eu não saísse da cidade. Ainda lembro disso com muito sofrimento. Fui separada da minha filha com o leite escorrendo no meu peito. Eu só pensava se ela estava com fome”, ela conta sua história mas faz questão de falar que escolheu ser feliz, casou de novo e, aos 47 anos, adotou um recém-nascido, filho de uma hanseniana. O segundo casamento durou 15 anos. “Já mandei dois maridos para São Pedro”.

Quando encontrou a filha biológica, Antônia já tinha uma neta de 14 anos. “Pois desde esse dia, ela vêm me visitar, gosta de mim e nunca teve preconceito”. Dona Antônia só voltou ao Sul de Minas para o enterro de cada um dos irmãos e da mãe. “Fiquei com raiva daquele lugar, fui muito humilhada, mas perdoei todos eles. Eu venci. O que a gente passava aqui não era brincadeira, mas nunca pensei em suicidar e não sou uma pessoa triste. A fé me salvou”.

A CURA PELA MÚSICA 

 

FOTO: FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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Paulo Luiz Domingues já foi impedido de entrar em Betim

Quando seu Paulo Luiz Domingues precisou vender um terreno e foi ao cartório de Betim, ele foi impedido de entrar na cidade. Naquela época os hansenianos, moradores da Colônia Santa Isabel, eram enxotados. “Pensava que poderia entrar em qualquer repartição pública”.

Com a fala fraquinha por causa da tireoide, ele precisa da ajuda da vizinha Maria Francisca, para contar o dia em que foi assinar um papel e colocaram um jornal em cima para não contaminar. “Foi uma cena muito triste”, conseguiu falar. Mas a música foi o que sempre lhe curou, tocava de viola a violino e escreveu 45 composições. Ainda hoje dá aulas. “Me chamo Paulo, o nome mais bonito da paróquia. Não tem o Paulo Maluf? eu sou o Paulo Maluco!”, disse, mostrando que mesmo sem voz e sem andar (amputou a perna um ano depois da morte da mulher Alaíde), ali vive um homem feliz.

PARA ONDE IR?

FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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Josina e José se casaram na Colônia Santa Isabel

Ao viverem 30, 40 anos como prisioneiros em Santa Isabel, quando foram curados da hanseníase e libertados, eles já não tinham para onde ir. Passaram toda a juventude lá dentro, só estudaram até a 4º série e não tiveram oportunidade de ter uma profissão. Muitos com sequelas nas mãos, nos pés e no rosto, sabiam que ainda enfrentariam muito preconceito fora da colônia, situação que persiste até hoje. “Como a gente ia trabalhar? Sem estudo e ainda com os dedos assim”, mostra José André Vicente, 80.

A maioria perdeu completamente o vínculo com as famílias. Sozinhos, aguardam a morte em Santa Isabel. Cerca de 160 moram em casas doadas pelo Estado, outros 45 estão no único pavilhão de internos que restou na cidade e em casas asilares. Os que vieram do período compulsório recebem, desde 2007, um salário do governo federal como uma espécie de indenização pela prisão ilegal. O Estado também ajuda com alimentação e cuidados médicos. Uns recebem a comida pronta todos os dias, outros, em situação melhor de saúde, têm direito a cesta básica e gás. São chamadas de etapa crua e etapa cozida.

O pavilhão (Unidade de Internação Gustavo Capanema), desde 2010, com o estabelecimento de critérios, passou a receber apenas os moradores da colônia que tiveram hanseníase e foram presos. Lá é uma espécie de asilo para cuidar dessas pessoas que estão sozinhas hoje.

Veja o vídeo: 

AS CORRENTES ABRIRAM E A VIOLÊNCIA CHEGOU 

“A gente era preso mas era feliz. Hoje a violência invadiu Santa Isabel. Depois das drogas, não temos mais sossego”, afirmou. dona Antônia Barroso. “A gente era feliz e não sabia. Desde que a colônia abriu, aqui está cheio de marginais, continuamos presos em casa, agora por causa deles”, completou José André Vicente. Santa Isabel está dentro de Citrolândia, uma das regiões mais perigosas da cidade hoje, com altos índices de assassinatos.

Enquanto os crimes passaram a fazer parte da colônia, o preconceito fora dela não deixou de existir, principalmente no centro de Betim, como relatam os moradores antigos. Assim que Santa Isabel reabriu, os comerciantes ainda “desinfetavam” o dinheiro tocado pelos hansenianos (a maioria curados) em uma estufa. “A gente tinha que colocar o dinheiro num saquinho na hora de pagar”, lembra Vicente.

CASAVAM PARA TER UM POUCO DE LIBERDADE 

Prisioneiros, namorar era a única diversão; Os pavilhões separavam homens e mulheres, mas após o casamento eles passavam a morar juntos;

Quando o moço do cartório chegou nos limites da Colônia Santa Isabel para realizar o casamento de Josina da Silva Brandião e José André Vicente, em 1966, ele abriu o livro de registros civis e colocou um papel grosso em cima, deixando apenas o espaço das assinaturas, para que os noivos hansenianos”não contaminassem a página. “Ainda tinha que pagar 5.000 cruzeiros para o rapaz vir até aqui de táxi, mas eu dividi com outro casal, então eu digo que ela me custou 2.500”, brinca Vicente.

A celebração religiosa foi numa igreja evangélica ainda em construção na colônia. Eles colocaram uma corda com umas lâmpadas para fazer a cerimônia e, enfim casados, foram morar juntos. Antes eram separados em pavilhões de homens e mulheres, mas Josina não ficou muito tempo lá, poucos meses depois que chegou em Santa Isabel conheceu Vicente, que já estava lá desde os 9 anos de idade. Hoje, ele com 80 e ela com 69, relembram os 49 anos de união pelos monóculos de fotografias, feitos por outro interno da colônia. “Eu ainda tinha minhas mãozinhas aqui”, fala Josina que pega no pequeno objeto com dificuldade por causa das sequelas da hanseníase.

Os matrimônios entre os internos eram muito comuns. Por serem jovens, namorar na colônia era praticamente a única diversão, mesmo com a vigilância dos guardas atrapalhando o chamego. Tinha também cinema com sessão diárias, bailes e bandas musicais em Santa Isabel.

No início as mulheres solteiras mal podiam sair dos pavilhões e lá dentro não havia regalias ou conforto. “A gente casava para ter liberdade, mas tinha muita bigamia. Eu falo que era igual um campo de concentração nazista, com a diferença que aqui tínhamos comida”, contou Maria Francisca de Ávila, 65. Ela casou aos 16 anos e foi uma das poucas que tiveram filhos, porque ainda era nova quando houve a abertura da colônia. A maioria das hansenianas tinham medo de engravidar, já que os filhos não ficavam nem cinco minutos no colo da mãe ao nascer. Quando chegavam com crianças sadias na colônia, os meninos eram logo separados da mãe e criados em creches.

 FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO

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Vida nos pavilhões era igual a um campo de concentração

Com a vinda de muitos pacientes do interior de Minas, os pavilhões recebiam os nomes das cidades (Bom Sucesso, Divinópolis, Ubá) e as prefeituras tinham que enviar verba. “Era um acordo para eles ficarem livres dos doentes”, diz Francisca. “Os pacientes de melhor poder aquisitivo eram mais bem-tratados”. Além dos locais de internação, tinham as casas que ficavam na chamada “zona neutra”, onde seu Vicente e dona Josina moram hoje. Eram residências construídas pelos parentes dos hansenianos. Como o preconceito contra eles era o mesmo, por terem contato com os doentes, não podiam sair de lá.

Seu Vicente conta que até a moeda dentro dos limites das correntes era outra. “Chamava Boró, eram umas fichas de couro. A gente trocava quando entrava na colônia. Eles faziam isso para não fugirmos e não contaminar o dinheiro deles”. Essa é só uma das histórias que ele tem pra contar e, se você tiver disposto a ouvir, ele não vai parar de falar um segundo. A origem do seu nome é mais uma delas. Foi ele mesmo que escolheu ao se registrar aos 18 anos e acabou ficando com três nomes próprios. Naquela época, muitos não tinham identidade.

Ele chegou na colônia com as irmãs sadias e a mãe, que também estava com hanseníase. O pai “morreu de depressão”. As meninas foram levadas para o Preventório, onde ficavam os filhos de hansenianos que não eram adotados. “Uma das minhas irmãs morreu porque sofria maus tratos no preventório”. Na década de 50, Vicente tomou o primeiro medicamento para a hanseníase, só em 1980 ele e a mulher receberam alta.

ATÉ DESCOBRIR O TRATAMENTO CORRETO, ELES FORAM COBAIAS 

Até se chegar a cura e o tratamento correto, os internos da colônia foram usados como “cobaias” por pelo menos três décadas. Os medicamentos eram testados em pacientes mais graves e os que estavam em estágios iniciais não eram tratados, fazendo com que os sintomas se agravassem.

“A gente sentia muita dor. Era tanto remédio! Quem não tomava, era castigado”, relatou Maria Francisca de Ávila, 65. Com 13 anos de idade, ela teve que aprender a dar injeção para ajudar os doentes piores. Não haviam enfermeiros sadios dispostos a trabalhar lá, ainda que tivessem um aumento de 40{2aac11db062106a511f82b3f846e67020ff249ff34fd66d1d03a377eef8e549c} no salário. Até os guardas eram hansenianos.

“Vínhamos para cá para morrer, porque não tinha remédio”, lembrou José Vicente. O cemitério da Colônia Santa Isabel chegava a receber três mortos por dia, muitos não só pela doença, mas por depressão. Já teve época em que 5.000 pessoas moravam nos pavilhões ao mesmo tempo. Mas chegava e saía gente sempre. Na verdade, suicidavam ou fugiam para ver a família. O rio Paraopeba que cerca o bairro era uma das rotas de fuga, mas eles eram capturados no caminho ou morriam.

ESPECIALISTA NA DOENÇA 

Conhecida como Queiroz, Maria Francisca de Ávila, 65, tirou o sobrenome quando casou. Mas ainda hoje é chamada assim porque ao chegar no pavilhão de crianças, aos 8 anos, já havia uma Maria, uma Chica e uma Maria Chica. “A gente chegava e ganhava um número. O meu foi 10.734. Quando eu lembro, me dá até arrepios”. Como teve que virar enfermeira na colônia, ela já está “escolada” em hanseníase, entende tudo da doença, e, segundo ela, a cada período de estresse, as manchas no seu corpo retornam.

Mas Francisca, ou Queiroz, só teve oportunidade de estudar em 1984, quando a colônia foi aberta, 28 anos após sua entrada lá. Calejada da vida de “hanseniana”, apesar de curada, quando foi para a escola, não fazia amizades e não falava muito com medo do preconceito das pessoas.

UM GRAVADOR NA CABEÇA 

Foi só chegar no Unidade de Internação Gustavo Capanema, onde funcionava um dos pavilhões, para todo mundo indicar o seu Severo, o homem que sabe todas as datas e histórias. “Trabalhava numa construtora. Tinha 28 anos. Os caroços apareceram por todo lado e me trouxeram para cá. Entrei no tratamento para morrer, mas recebi alta em 1972. A gente foi vencendo muitas batalhas”, descreveu Severiano José Souza.

“Adoeci em 23 de agosto de 1966. No dia 24 cheguei na colônia e recebi a ficha 12.264 no dispensário”

Seu Severo narra que o preconceito comandava a região. “A gente só podia ouvir e não falar nada, só abaixar a cabeça. Sempre tinha um guarda atrás com medo da gente fugir”. Com a morte da mulher (também hanseniana), há 27 anos, ele voltou a morar no “pavilhão”. “Deus me deu uma companheira 1.000{2aac11db062106a511f82b3f846e67020ff249ff34fd66d1d03a377eef8e549c}. A vida de casado foi o melhor tempo. Aqui (colônia) está toda a minha história, só vou sair quando a morte chegar”. Da família de quatro irmãos, três com hanseníase, só sobrou “Severiano e o Valdemar”. Ao final da conversa, esse senhor de 77 anos, deixa uma lição: “Você pode fazer de um lugar o céu ou o inferno”, enquanto balançava os pezinhos enfaixados.

Em 26 de agosto de 1998, um pavilhão pegou fogo em Santa Isabel. A data certeira vem da cabeça de seu Severo, que morava lá no dia do incêndio e ajudou a carregar muitas mulheres para fora da unidade. “Foi Deus que comandou, a gente era só o instrumento. Peguei muita mulher no braço. Mas duas delas, Zilda e Elza, voltaram para dentro do pavilhão para pegar um dinheiro no colchão e morreram”, destaca Severiano. Um acidente doméstico teria gerado o fogo.

71 ANOS DE COLÔNIA ]

 

FOTO: FOTO: MOISES SILVA / O TEMPO