“Os desafios da gestão do SUS no Brasil sob o olhar do trabalhador da atenção básica”, por Erico Vasconcelos

“Os desafios da gestão do SUS no Brasil sob o olhar do trabalhador da atenção básica”, por Erico Vasconcelos

Não é fácil a vida dos trabalhadores da saúde que atuam nas Unidades tidas como “Básicas”. De básico, só os equipamentos, o mobiliário e as instalações que, para falar a verdade, não tem nada de “básicas” e sim complexas, em função de sua inadequação às diversas realidades e demandas, dentre outras situações. Pensar em ofertar serviços de saúde prestigiando aspectos como a educação em saúde e a sua promoção, como prevê a atenção básica, é em grande parte um desafio para a maioria dos profissionais de saúde. “Enfrentar” populações que ainda tem como principal conceito de saúde a mera ausência de doença e, como consequência disso, a expectativa pela assistência médica, a receita e o remédio é algo instigante. Muitos desses profissionais não tiveram essa formação nas Universidades, não conseguem enxergar o que os cerca e se encontram literalmente “aprendendo em serviço”, a partir do momento em que se permitem atuar nessa lógica. Entretanto, essa é uma minoria, já que muitos ainda voltam seus olhares para o mundo privado vendendo seus conhecimentos técnicos e outros serviços à uma parcela ainda mínima e decrescente da população brasileira que ainda pode pagar. Como fortalecer a idéia da atenção básica e a importância da prevenção das doenças, correspondendo às expectativas das pessoas, quando o assunto é saúde? Penso que vários movimentos devem ser considerados nesse contexto e que se faz importante que sejam articulados para esse fim comum, o de aliar às expectativas dos gestores, com impactos nos indicadores de saúde, com as dos trabalhadores desse setor, trazendo satisfação profissional e pessoal, e sobretudo as da população, com maior acesso aos serviços de saúde e propiciando às pessoas mais qualidade de vida.Não há como não imaginar formar profissionais de saúde sem a devida apropriação do que acontece “do lado de fora” dos muros das Universidades, sem o olhar do “público”, que é de todos e que deve ser considerado por esses “todos”. É impressionante, sob o meu ponto de vista, a tamanha alienação presente em muitos egressos das diversas áreas, que não conhecem o Sistema Único de Saude (SUS), que falam mal dele bem como suas respectivas famílias e que alimentam o sonho de “montar consultório e ganhar dinheiro”. As disciplinas ligadas ao ensino da saúde pública são pouco consideradas pelos alunos e não tem a devida importância quanto àquelas ligadas às especialidades médicas ou odontológicas que, na mentalidade das pessoas em geral, “rendem mais aos profissionais”, como cirurgia geral, ortodontia, implantodontia, etc. Como se não bastasse, nem mesmo dentro das instituições de ensino elas são privilegiadas, seja pelo próprio corpo docente, seja pelos seus administradores. Elas existem mais para cumprir quaisquer formalidades do que com a missão de contribuir para dias melhores, para um futuro melhor de nossa sociedade.  São esses os profissionais que recém-formados, por um impulso, acaso ou outro motivo qualquer, acabam por se perceberem trabalhando na saúde pública. Estudos recentes indicam que o grande empregador da atualidade é o próprio SUS que, por meio do Programa Saúde da Família (PSF) e sua respectiva ampliação da cobertura populacional nos municípios brasileiros, tem disponibilizado inúmeras vagas e oportunidades de trabalho para os profissionais da saúde e com remunerações atraentes. Daí decorre a preocupação de gestores e de sanitaristas, já sentidas, que observam que se não houver por parte dos profissionais o cuidado de conhecer o cenário e os contextos que os cercam no SUS local, há a possibilidade de não corresponder às expectativas da população que assistem e, assim, a consequente chance de involução na consecução e consolidação da política pública de saúde em curso. Diz o ditado que “quem não sabe o que procura não enxerga quando o encontra” e assim caminha a atenção básica da saúde