Uma confusão de sobrenomes, ocorrida em 2000, acabou levando Ney Matogrosso a abraçar a causa em favor das pessoas com hanseníase. Na época, segundo o cantor, o ator Ney Latorraca disse em uma entrevista que iria deixar sua herança para pessoas com Aids e hanseníase. E várias instituições, na tentativa de falar com o ator, acabaram telefonando para o cantor. “Eu dizia que elas estavam enganadas, que aquele assunto não era comigo. Mas comecei a perguntar coisas; achava que hanseníase era uma doença que não existia mais”, conta Ney Matogrosso. Impressionado com a quantidade de informação que não é devidamente divulgada entre a população (exemplos: a doença tem cura, o tratamento é gratuito e deve estar disponível em todo posto de saúde, os remédios são fornecidos de graça), o cantor colocou-se à disposição para atuar com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), grupo formado por ex-portadores da doença, com sede no Rio de Janeiro e escritórios em todo o país. O trabalho de Ney consiste em visitar antigos hospitais de isolamento em cidades do interior do país, investir contra preconceitos e explicar como curar e evitar o surgimento de novos casos da doença. CASO DE SAÚDE PÚBLICAA hanseníase é causada por um micróbio que ataca a pele, os olhos e os nervos. É conhecida, também, como lepra. A forma de transmissão é pelas vias aéreas: uma pessoa infectada libera o bacilo no ar e cria a possibilidade de contágio. A infecção, porém, dificilmente acontece depois de um simples encontro social. No Brasil, a doença está presente em todos os estados e é considerada um grave problema de saúde pública. “Faço campanhas estaduais, mas a necessidade é de uma campanha nacional de informação. É o Ministério da Saúde que tem que fazer. Não pode ser uma campanha de dez, 15 dias, tem que ser regular, anos seguidos”, afirma o cantor. “Nós queremos que se chegue a um ponto de banalização da doença, de olhar para um amigo e dizer: ‘Olha, você está com esse sinal aí na pele. Isso pode ser hanseníase. Vá a um posto de saúde!’.” Segundo dados oficiais, surgem mais de 42 mil novos casos da doença por ano. “Se atingisse a classe média, a média-alta, como a Aids, já estaria sendo tratada de outra maneira. Mas atinge gente muito pobre, que vive em situações muito precárias. E eles são interessantíssimos. Eu conheci um homem que não tem braço, não tem perna, é cego e é um guerreiro”, conta o cantor. “Eu vi uma criança uma vez, no Ceará, que, tenho certeza, tinha hanseníase. Chamei um amiguinho dela que estava perto e mandei ele avisar a mãe da criança para levá-la a um posto de saúde. E o menino respondeu: ‘Ah, não. Isso é pano branco’. Eles confundem. Pano branco é uma manchinha branca que dá na pele, eles acham que não há nada. Mas também ocorre por falta de higiene”, diz o cantor. Para Ney, a única alternativa para reverter os números da doença são as campanhas: “A matemática é simples: informação mais esclarecimento reduzem o preconceito”. Fonte: Revista Quem. Matéria de Elena Corrêa. Foto de Jorge Bispo.