A Cúpula dos Povos na Rio+20 e as mobilizações por direitos na Europa

A Cúpula dos Povos na Rio+20 e as mobilizações por direitos na Europa

Fátima Mello

FASE – Solidariedade e Educação

 

21/05/2012

 

Ao mesmo tempo em que movimentos sociais constroem a reta final para a Cúpula dos Povos

na Rio+20, jovens, mulheres, trabalhadores, trabalhadoras e ativistas de direitos lutam

e se mobilizam nas ruas de centenas de cidades na Europa. Existe muito em comum entre os

dois processos. Em vários países da Europa a perda de direitos, a precarização do

trabalho, o seqüestro da política pelo sistema financeiro e a fragilização da democracia

acumulam as condições para a emergência de amplas mobilizações de massa. Na Rio+20, as

corporações e o sistema financeiro ampliam cada vez mais o controle sobre os resultados

da conferência oficial, deletando direitos do rascunho do documento final, eliminando

conquistas expressas em princípios e convenções aprovados no sistema internacional,

entregando ao sistema financeiro o controle sobre a natureza, fortalecendo uma

arquitetura institucional que enfraquecerá a idéia de uma ONU dos povos e fortalecerá a

tendência de uma ONU voltada aos interesses do capital.

 

A Rio+20 corre o risco de se tornar o mecanismo de institucionalização e formalização do

controle do sistema financeiro e das corporações sobre diversas instituições e regimes

internacionais. Ao fazer isso, o frágil arcabouço de direitos conquistado ao longo de

décadas de lutas globais corre o risco de perder para o avanço do controle corporativo.

De forma similar, o sistema financeiro seqüestrou e passou a controlar a política em

países como Grécia e Itália.

 

Existem portanto pelo menos dois pontos fortes em comum entre o que acontecerá no Aterro

do Flamengo no Rio e o que ocorre nas ruas européias: a financeirização da política e da

natureza, e a perda de direitos em prol do aumento dos lucros das corporações e do

sistema financeiro.

 

Tendo a crise global como preocupação central dos governos, a conferência oficial Rio+20

tenderá a ficar polarizada entre saídas frente a crise global via austeridade e recessão

ou via desenvolvimentismo e consumismo visando a inclusão social. Como pano de fundo

comum a ambos, haverá a legitimação da economia verde como nova forma de manutenção do

crescimento econômico, dos insanos fluxos globais de investimentos e mercadorias, e de

expansão da acumulação através da entrega da natureza ao mercado financeiro.

 

Frente a este cenário, a Cúpula dos Povos tem pela frente importantes desafios.

Deverá se somar às vozes dos povos que na Europa estão dizendo nas ruas um amplo não à

perda de direitos e à financeirização da política. Deverá também buscar novas

convergências que articulem lutas que hoje se realizam em múltiplos planos e

territórios, e que potencializem mutuamente as novas e as tradicionais formas de

organização dos movimentos sociais. E deverá buscar o difícil caminho do reconhecimento

da importância das políticas de inclusão social e de manutenção do emprego, porém

apontando a necessidade de alteração do modelo vigente de produção e consumo.

 

Por estes motivos a Cúpula dos Povos na Rio+20 não será apenas um evento. Será mais um

ponto na trajetória de construção e fortalecimento de um movimento global que a cada dia

incorpora novos desafios, novas dimensões, novas agendas e atores, e portanto, novas

possibilidades e também contradições. Será assim um ponto crucial e estratégico nesta

trajetória, pois tudo indica que poderá inaugurar um novo ciclo, onde a unidade antes

existente em torno do anti-neoliberalismo poderá se ampliar para uma crítica mais

profunda, que passa a colocar a natureza no centro das lutas por direitos e justiça. A

luta por emprego e direitos passará a caminhar de mãos dadas com a defesa dos bens

comuns e da natureza. Esse poderá ser o legado maior da Cúpula dos Povos na Rio+20 para

o movimento global.