Praia Grande produz sapatos especiais para pacientes de hanseníase

Praia Grande produz sapatos especiais para pacientes de hanseníase

Fabricar calçados especiais para quem sofre de hanseníase. Esse era um antigo sonho da médica Regina Pita, responsável pelo setor de Dermatologia Sanitária do Centro de Referência em Atendimento à Tuberculose e Hanseníase (Crath), em Praia Grande. Disponível em poucas cidades brasileiras, o serviço não existia na Baixada Santista até o mês passado, quando uma parceria com o Lar Beneficente Eurípedes Barsanulfo o tornou realidade. Apesar de ainda não ter sido oficialmente inaugurada, a sapataria, pioneira na região, já fabrica os primeiros pares de sapatos num espaço cedido pelo lar, na Rua Eurico Gaspar Dutra, 1.756, Forte. O desafio, agora, é mantê-la, aumentando a produção.“Os pacientes com hanseníase chegam com os pés enfaixados, muitas vezes descalços ou de chinelos. A maioria não tem recursos. Às vezes, eu chorava por vê-los daquele jeito”, conta Regina Pita. A médica se diz emocionada por constatar que, mais do que conforto e segurança para quem nem sente os próprios ferimentos, um par de sapatos proporciona valorização. “Há pacientes que nem querem sair de casa, por vergonha dos próprios pés. Mas ao receberem sapatos novos, passam a ter vontade de passear. A auto-estima melhora muito”. Além de agravar o quadro clínico, a falta de proteção prejudica os pacientes em outros aspectos da vida, como na busca ou manutenção de renda. “A maioria tem poder socioeconômico muito baixo. Quando chegam aqui, a primeira coisa que eu olho são as mãos e os pés. Se o paciente tiver deformidades, não consegue emprego. Essas pessoas acabam tendo uma vida muito ruim. Temos de evitar isso. Fazemos treinamentos para que os profissionais diagnostiquem os casos de forma rápida.”- Encaminhamento:Doença infecto-contagiosa causada pelo Bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae), a hanseníase pode ser confundida com problemas dermatológicos simples, mas se diferencia pela perda de sensibilidade do local afetado, inicialmente apenas uma mancha na pele. Se não for tratada no início, atinge nervos e pode provocar amputações, daí a necessidade de se evitar lesões. “Um calçado inadequado pode causar ferimentos. A palmilha deve se especial, principalmente quando há úlceras plantares”, ressalta a médica.Regina explica que o encaminhamento para a sapataria é feito pelo Crath. “Avalio os pés dos pacientes e registro as informações num mapa. O sapateiro faz o molde pelas medidas e de acordo com essas orientações”, explica.No futuro, pretende-se estender o atendimento a pacientes diabéticos, que também têm perda de sensibilidade nos pés, e até envolver outros municípios. “Por enquanto atendemos somente Praia Grande, mas nossa meta é receber pacientes dos nove municípios da região metropolitana”, explica Regina. “Antes tínhamos de encaminhá-los para Mogi das Cruzes, São Bernardo do Campo ou Bauru”.- Apoio mútuo:A sapataria resulta de uma soma de esforços. O maquinário foi doado por um empresário e pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). O espaço foi cedido pela diretora do lar, Sandra Regina Moretti. “Conversando sobre esse sonho, Sandra se mostrou solidária e está nos ajudando com o local. Tenho muito que agradecer a ela, que é uma pessoa maravilhosa”, destaca a médica.Sandra Moretti afirma que o Lar Eurípedes apóia a iniciativa, cedendo uma edícula para o funcionamento do serviço, porque faz da filantropia um de seus principais fundamentos. “Como temos condições de fazer a unificação de muita gente em prol dos menos favorecidos, somos parceiros. Nosso objetivo é ajudar os órgãos governamentais e não-governamentais. Não ficamos sentados, exigindo verba.”A mesma solidariedade é demonstrada pelo responsável pela produção, Mauriberto Pereira Silva, de 44 anos, ex-paciente do Crath. “Faço isso para ajudar o pessoal que necessita”, declara.Mauriberto era pintor antes de contrair a doença, mas chegou a garimpar lixo nas ruas para sustentar a família. Foi tratado por R